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O que a morte da cantora Sulli revela sobre saúde mental e a indústria do kpop

14 • 10 • 2019 às 15:54
Atualizada em 14 • 10 • 2019 às 16:55
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

A cantora Sulli, do grupo de k-pop ‘f(x)‘, foi encontrada morta em seu apartamento na madrugada do dia 13, chocando boa parte da comunidade fã de pop coreano ao redor do mundo. Segundo os jornais do país, o suicídio é apontado como provável causa de morte da jovem de apenas 25 anos.

A cantora Sulli

Sulli cantou na girlband ‘f(x)’ de 2009 até 2015, quando deixou a música para começar sua carreira como atriz no k-drama (novelas sul-coreanas). O trabalho de Sulli foi mundialmente reconhecido, entretanto, no último mês, a atriz foi duramente hostilizada na internet por ter mostrado seus seios involuntariamente durante uma transmissão ao vivo em seu Instagram durante uma sessão de maquiagem.

“Parece que vivia só na casa. É provável que tirou a própria vida, mas também estamos contemplando outras possibilidades”, disseram as autoridades sul-coreanas. Em 2014, Sulli já havia tirado um ano sabático após alegar exaustão física e mental. Em 2015, se retirou oficialmente do grupo musical ‘f(x)‘ para se dedicar a carreira de atriz.

Sulli era conhecida pelo comportamento autêntico e virou alvo de haters na internet. Foi ela que começou o movimento #nobra (sem sutiã) na Coreia, que rendeu mais críticas pela defesa do feminismo em um meio machista e rígido como o do K-pop.

K-pop e saúde mental

Sulli não foi a primeira estrela do k-pop a sofrer com uma morte trágica. Em 2018, o líder da banda 100%, Seo Min-woo, foi encontrado morto em sua casa vítima overdose. No mesmo ano, o rapper de 20 anos do grupo Spectrum, Kim Dong-yoo, teve uma morte misteriosa, que foi apenas assegurada como ‘não-natural’ pelas autoridades coreanas. Kim Jong Hyun, do grupo SHINee, se suicidou em dezembro de 2017 após um gravíssimo quadro de depressão.

A intensa pressão em cima dessas figuras é bastante criticada, sendo os idols (estrelas do mundo k-pop) submetidos  treinamento físicos e midiáticos de alta intensidade. A rígida cultura coreana também é um fator adicional para esse problema; o país é 1º em número de suicídios dentro do mundo desenvolvido.

“Óbvio que o problema na indústria musical é muito sério, mas na verdade o k-pop não passa de um microcosmo do que é a vida do jovem sul-coreano desde muito cedo. E é provavelmente o maior problema de saúde pública que a Coreia enfrenta hoje em dia”, afirmou Tiago Mattos, especialista em cultura do leste asiático ao UOL.

A pressão estética e o domínio sobre a vida pessoal desses jovens – que são impedidos de namorar, por exemplo – pode ser aterrorizante. Além dos suicídios, anorexia, overdoses e internações são comuns entre os idols.

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“Ainda é um grande tabu para os sul-coreanos falarem abertamente sobre depressão e ansiedade. Mas com certeza muitos artistas, e muitos já afirmaram isso, sofrem bastante devido às pressões e regras impostas pela sociedade sobre como ser e se comportar como ‘idol'”, afirmou Natália Pak, especialista em cultura k-pop, em entrevista ao UOL.

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Foto: Reprodução/Instagram


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