Arte

Para Adèle Exarchopoulos, cenas de sexo são supervalorizadas: ‘Há um universo no cinema que não gira só em torno da sexualidade’

27 • 10 • 2019 às 22:31
Atualizada em 28 • 10 • 2019 às 17:55
Janaina Pereira
Janaina Pereira Jornalista e publicitária. Especializada em cultura - principalmente cinema - e gastronomia. Desde 2009 cobre os principais festivais da sétima arte, como Veneza, Cannes, San Sebastian, Berlim, Rio e Mostra Internacional de São Paulo. Participou dos livros "Negritude, Cinema e Educação" (escrevendo sobre o filme "Preciosa", de Lee Daniels) e "Guia de Restaurantes Italianos" (escrevendo sobre 45 restaurantes ítalo-brasileiros de São Paulo).

A beleza juvenil que chamou a atenção do mundo no filme Azul é a Cor Mais Quente permanece, mas algo mudou em Adèle Exarchopoulos. A atriz francesa que, aos 19 anos, viu sua vida mudar em seu primeiro (e polêmico) trabalho como protagonista, não renega o passado, mas quer um novo rumo para sua carreira.

Para quem não lembra, Azul é a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche, venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2013. O longa conta a tórrida e conflituosa história de amor entre duas jovens (vividas por Adèle e pela também francesa Léa Seydoux). As atrizes dividiram com Kechiche o prêmio e se tornaram, ao lado da diretora Jane Campion, as únicas mulheres a ganhar o prestigiado evento francês. Depois da premiação, Léa acusou o diretor de abuso moral e psicológico no set de filmagem.

Em um primeiro momento, Adèle apoiou a já experiente Léa Seydoux. Meses depois, divulgando o filme pelo mundo – incluindo o Brasil – ela voltou atrás, chamou Kechiche de gênio, e deu a entender que Seydoux exagerou. O assunto continua incomodando até hoje. “É um filme importante, e um momento especial da minha carreira. Foi algo muito grandioso, e talvez eu não viva aquilo novamente. Mas não quero ser lembrada apenas como a garota de Azul é a Cor Mais Quente”, diz a atriz, em entrevista exclusiva ao Hypeness.

Adèle se mostra arredia ao falar do filme que a projetou. Questiono como é o relacionamento dela com Abdellatif Kechiche atualmente e se trabalharia de novo com ele. “Quando nos encontramos em algum evento, conversamos. É normal. Fazer um filme com ele ou qualquer outro diretor vai depender do roteiro”, desconversa.

Ainda que não queira ser lembrada apenas por este trabalho, ela sabe que as cenas de nudez que protagonizou – incluindo a famosa cena de sexo com Léa Seydoux que durou oito minutos e foi rodada ao longo de dez dias – vão sempre ser motivo de comentários. “Não é confortável fazer [cenas de nudez]. Você mal conhece a pessoa e horas depois está ali, nua, com várias câmeras filmando. Não importa se a cena é com homem ou mulher, tem um momento de embaraço”.

Mas o desconforto não é um problema para a atriz. “Acho que o sexo no cinema ainda chama muito a atenção e é supervalorizado. Para o ator existem outros momentos que precisam testar nossos limites. Cenas de ação, de separação, de dor… há um universo no cinema que não gira só em torno da sexualidade”.

No entanto, Adèle concorda que cenas de sexo entre atrizes ou atores geram mais polêmicas. “Ainda julgam quando dois homens ou duas mulheres aparecem na tela fazendo sexo, porque esse julgamento também existe na vida real. Mas esse tipo de situação precisa mudar. Não importa a forma como as pessoas querem fazer sexo. Há problemas muito maiores no mundo”.

Em seu último filme Le Fidèle, de Michaël R. Roskam, representante da Bélgica no Oscar e ainda inédito no Brasil, ela interpreta Bibi, uma piloto de corridas que se envolve com um gângster, vivido pelo ator belga Matthias Schoenaerts (de Ferrugem e Osso e Operação Red Sparrow). Um papel que fugiu do que ela vinha fazendo. “Bibi é uma personagem diferente, que está em um universo masculino, mas que não deixa de ser uma jovem atraente. Só de atuar entre os carros e mostrar que uma mulher pode vencer ali também, isso já foi especial”, comemora, acrescentando que não usou dublês em cena.

Adèle Exarchopoulos nasceu em Paris, e o sobrenome grego é herança do avô. E, para quem ainda não sabia da novidade, já é mamãe. Em maio de 2017 nasceu seu primeiro filho, do relacionamento com rapper francês Doums, líder da banda Fremont. A gravidez foi longe dos holofotes, assim como qualquer assunto sobre sua vida pessoal. Ela prefere falar apenas de sua carreira, e conta sobre o flerte que fez com Hollywood, ao filmar The Last Face, de Sean Penn. “Esperam que eu mude para Los Angeles a qualquer momento. Mas não tenho essa intenção. Fiz o filme do Sean Penn em 2016, e na época foi uma ótima oportunidade”.

Os convites para fazer cinema continuam surgindo, mas ela prefere escolher cuidadosamente seus projetos. “Quando meu rosto ganhou o mundo, foi um susto. De repente todos me conheciam. Mas eu sou bastante exigente comigo mesma. Não quero decepcionar com meus próximos filmes, por isso cada um deles é escolhido com cautela”.

Este ano ela estará em The White Crow, a cinebiografia do lendário bailarino russo Rudolf Nureyev, dirigida por Ralph Fiennes, e em Revenir, de Jessica Palud. Outros dois filmes estão em seu radar. Aos 25 anos, Adèle não tem pressa. “Tudo aconteceu tão rápido para mim que agora quero seguir minha carreira com calma. Ainda tenho muita coisa pela frente”.

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Créditos: Foto 1: La Biennale di Venezia / Foto 2 : Divulgação / Foto 3: La Biennale di Venezia


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