Inspiração

Como o descuido de um médico com o nome de uma trans virou uma lição de empatia

08 • 11 • 2019 às 11:22
Atualizada em 08 • 11 • 2019 às 11:24
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Eduardo Fernandes fazia consultas em um hospital público do Rio de Janeiro. Chamou um  nome para a sala. “João da Silva” era o que estava escrito no papel. Do nada, uma mulher trans se levanta. Muitas risadas e constrangimento por parte do resto da sala de espera.  Eduardo não se sente bem.

Durante a consulta, Eduardo pergunta: “Qual seu nome?”. “Yasmin Victoria”, ela responde. A consulta não era nada grave, era uma dor na lombar. Após a consulta, Eduardo se desculpou: “Yasmin, não esqueça de voltar após a medicação. E desculpe a confusão que fiz com os nomes”. Alguns minutos depois, ela aparece novamente no consultório com um bombom Serenata do Amor.

O médico pergunta se ela já melhorou da dor e Yasmin diz: “Eu to melhor é da minha dignidade, doutor. Eu fui muito bem tratada, mas achei o olhar do senhor triste. E dizem que os olhos são o espelho da alma. Posso dar um abraço no senhor?”

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A postagem feita pelo médico em maio de 2019 viralizou e já tem mais de 110 mil likes no facebook. A tocante história é uma das positivas em meio a um país bastante transfóbico – o Brasil é o país que mais matas transexuais e travestis no mundo, segundo informações ONG Transgender Europe. Tivemos avanços quanto ao nome social nos últimos anos no Brasil, com mais de 2000 mudanças de nome em cartório em 2019.

Entretanto, e infelizmente, boa parte das instituições públicas brasileiras não têm o costume de respeitar nomes sociais não alterados em documentos, como no caso de Yasmin Victoria. Ela não é a única. A gente contou o caso de Lorena Vicente, 23, que foi assassinada em um caso de LGBTfobia e teve seu nome social ocultado no boletim de ocorrência, contrariando uma lei Municipal de São Paulo que obriga o uso do nome social em documentos oficiais.

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“Assustado porque é impressionante o tanto de gente me parabenizando por ter feito nada menos do que minha obrigação. Contei essa história para falar de como eu me senti trocando de posição cuidador/cuidado, porque naquele dia especificamente, eu estava muito mal. Foi muito difícil sair de casa para ir ao plantão. Não escrevi para me vangloriar de ter feito o meu papel de respeitar o nome social”, afirmou Eduardo em uma postagem posterior no Facebook.

Confira a postagem do médico na rede social:

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Foto: Reprodução/Facebook


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