Debate

Quem foi o camponês símbolo da luta contra agrotóxicos morto por doença provocada por veneno

13 • 11 • 2019 às 18:15 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Se a vida do camponês argentino Fabián Amaranto Tomasi tornou-se de absoluta dedicação contra os agrotóxicos e seus terríveis efeitos sobre nossa saúde em seu país e no mundo, sua morte é hoje símbolo dessa mesma luta. Falecido aos 52 anos em setembro do ano passado, vítima direta do mal que os agrotóxicos podem provocar, Fabián trabalhou por quase dez anos para Molina & Cia. SRL, empresa de pulverização aérea de agrotóxicos e, quando começou a perceber os efeitos do real envenenamento que viria a tirar sua vida, foi que sua luta final começou, conforme conta a tocante matéria do site Pública.

O agricultor argentino Fabián Tomasi

“Estão fazendo da agricultura um campo de concentração”, disse o próprio Fábian, em relato para o livro “Envenenados”, lançado em 2013 pelo jornalista argentino Patricio Eleisegui. “Tenho o corpo seco da cintura para cima. Quase não tenho músculo nenhum, só pele e osso”. Fabián trabalhava diretamente com agrotóxicos como endosulfan, 2,4-D, clorpirifos e glifosato , e foi essa contaminação que o levou a desenvolver neuropatia tóxica – que secaria 30 quilos de seu peso original até sua morte.

Patricio Eleisegui e Fabián em fala sobre o livro

Fabián trabalhava no pequeno vilarejo de Basabilbaso, em Entre Rios, onde nasceu e cresceu – região responsável pela segunda maior produção de arroz e quarta maior produção de soja da Argentina. Seu relato releva que trabalhava para a empresa sem carteira assinada e sem qualquer proteção. Depois que abandonou a Molina & Cia. SRL, chegou a trabalhar como taxista, antes de se aposentar por invalidez – no fim de sua vida, já não era mais capaz de se alimentar sozinho.

Sua motivação, ao fim, foi mostrar ao mundo o efeito que os agrotóxicos causaram em seu corpo, e assim se dedicou até os últimos minutos que pôde.

Fabián com sua família

Sua família jamais recebeu qualquer indenização ou suporte financeiro da empresa que efetivamente assassinou Fabián – que hoje oferece sua história para repensarmos o uso de agrotóxicos, o lucro irrefreável e o que estamos fazendo com nossa alimentação e nossas vidas.

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© fotos: divulgação/arquivo pessoal


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