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A incrível história do cãozinho resgatado do tráfico

30 • 12 • 2019 às 10:18
Atualizada em 02 • 01 • 2020 às 10:36
Pedro Drable
Pedro Drable Pedro Drable é publicitário e engajado na causa de animais de rua desde que adotou uma cadelinha chamada Dory. A história de superação dessa cadela sobrevivente de cinomose e seu dia a dia cheio de humor podem ser acompanhados pelo instagram @dorydalata. No mesmo Instagram, o publicitário lançou a Dalata, uma marca para amantes de pets que reverte um terço dos lucros para ajudar abrigos, protetores independentes e animais em risco.

Quem se interessa por resgatados e viralatas certamente já ouviu uma boa parcela de histórias de cães que encontraram uma nova vida. Mas essa é diferente da maioria das histórias “tradicionais”.

Geralmente, cães resgatados de situações de maus tratos são vítimas de famílias que tratam os animais com descaso e violência, acumuladores, canis clandestinos ou os chocantes casos de rinhas de animais relatados no noticiário recente. Os resgates muitas vezes precisam de intervenção policial, e podem se transformar em situações perigosas para protetores e agentes de segurança.

Tudo isso já exige um grau de coragem que torna os responsáveis por cada resgate verdadeiros heróis. Mas e se o objetivo fosse resgatar um cachorro de uma quadrilha de traficantes armados?

Essa é a história impressionante do Jack Bauer, um cãozinho resgatado de uma quadrilha de criminosos em um dos lugares mais perigosos do Rio. Por motivos de segurança, não vamos dar detalhes sobre o lugar, o protetor ou as datas do resgate. Todo o resto desse relato incrível pode ser acompanhado a seguir, nas palavras da nova e maravilhosa familía do Jack.

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Como começa a história desse cachorro? 

A primeira informação que temos sobre o Jack é que ele foi abandonado em um local no Rio. Um dos traficantes encontrou ele e o levou para uma favela próxima, onde ele passou a ser integrante do tráfico e foi treinado para ser vigia da madrugada. Quando alguém se aproximava, ele latia alertando. Ele passava os dias ao lado dos traficantes e viciados. Os relatos são de que ele chegava a ficar o dia todo dormindo. Até cocaína ofereciam para ele.

Ele continuava sendo um cão de rua, se alimentava de restos, não tinha casinha e nem nada. Uma moradora da localidade vinha acompanhando o sofrimento dele e resolveu a dar comida, remédios e seu primeiro banho, passando a cuidar dele mesmo estando na rua.

 

Qual era o nome dele?

Quando adotamos, ele se chamava Rafaello, nome dado pelo Projeto que o acolheu, mas seu nome anterior era Cobertura, referência ao seu “cargo” como cão alerta dos traficantes.

 

E ele sofria maus tratos?

Ficamos sabendo através da pessoa que resgatou ele que ele sofria maus tratos sim. Ele apanhava constantemente, levava coronhadas (as cicatrizes são presentes) e davam drogas para ele. Ela nos relatou que ele passava alguns momentos completamente apagado pelo efeito da droga.

 

Aconteceu alguma coisa específica pra que essa moradora resolvesse resgatar o Jack?

Sim. Ela nos contou que num determinado dia a polícia subiu o morro, houve muitos fogos e troca de tiros. Na confusão, o Cobertura foi se esconder junto com os traficantes, e acabou entregando o local onde eles estavam escondidos. Nos contou que ele apanhou muito e que chamaram ele de X9. Depois disso ela sabia qual seria o destino dele. Então ela aproveitou um momento de confusão e trancou ele dentro de sua casa.

 

A saída dele da comunidade teve que ser em segredo?

Sim, teve. Essa mulher que salvou ele é conhecida no bairro, pois resgata e cuida de muitos animais. Os traficantes, sabendo que ela tinha acolhido ele, chegaram a fazer ameaças a ela e sua família.

 

E como você soube dessa história?

Soubemos um pouco da história dele pelo Projeto, ficamos comovidos ao ponto de não querer esperar mais nem um dia para ter ele seguro em nosso lar. Jack ainda se encontrava escondido na favela e não podíamos nem entrar no local para buscá-lo. Tivemos que esperar alguém conseguir sair com ele. Facilitamos a logística e a própria mulher que resgatou ele que o trouxe. Desde então, continuamos mantendo contato com ela e foi assim que descobrimos que o passado do Jack era pior do que haviam nos contado inicialmente.

https://www.instagram.com/p/BxDn6NxJwZq/

Quanto tempo o Jack demorou para se acostumar com a nova realidade? Ele tem algum trauma?

Demorou um tempo considerável, por tivemos que focar primeiramente em restabelecer a saúde dele. Não eram apenas os traumas físicos e psicológicos, Jack estava muito debilitado. Descobrimos que ele tinha doença do carrapato, giárdia, gastroenterite, doença inflamatória intestinal e que possui dermatite atópica. Chegamos a pensar que íamos perdê-lo. Ele lutou bravamente. Os medos eram muitos, a lista ficaria imensa. Citando alguns: medo de elevador, de ladeira, escada, da varanda, do espelho, das sombras, pessoas com objetos na mão, carros e qualquer som mais alto, ao ponto de não ser possível passear na rua e dele rasgar minhas roupas puxando para voltar. Foram necessários alguns meses de adestramento, muita paciência e amor, ainda estamos em processo de superação, mas posso afirmar que ele tem feito grandes progressos.

 

O que a convivência com ele ensinou para você?

Já tive outros animais adotados, mas nenhum com a história parecida com a do Jack. Sempre digo que ele me ajudou a entender o poder que o amor tem em salvar e a curar vidas. Desde o momento em que ele foi resgatado, até o momento da sua adoção, foi feita uma corrente de amor. O amor salvou a vida do Jack. Ele é um animal completamente diferente do que chegou em nosso lar a dois anos atrás; seu olhar e sua linguagem corporal são outras. Hoje ele brinca, e como brinca,  quando chegou parecia não saber o que fazer com os brinquedos que compramos para ele, seu comportamento era esconder. A impressão que temos é que o passado triste foi esquecido.  A história dele é de superação! Jack nos ensinou muito sobre o amor.

https://www.instagram.com/p/BygZlhDJmuw/

Por que o nome Jack Bauer?

Por causa do personagem principal da série “24 horas”, meu marido é um grande fã.

 

O que você diria para alguém que pensa em adotar um animal, mas tem medo dos traumas que ele possa ter no passado?

Eu diria “ame!”. Parece clichê, mas somente o amor tem a capacidade de curar as feridas do passado. Gosto da definição bíblica que diz que: “o amor é paciente”, e você provavelmente vai precisar de muita paciência, pois será necessário tempo para curar as feridas; “o amor é bondoso”, e eles como vítimas de maus tratos precisam conhecer esse outro lado; corroborando, “o amor não maltrata”, e para finalizar, o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Ame e eles retribuem em dobro!

https://www.instagram.com/p/BmmLAjRgPk7/

 

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Agradecimentos especiais à protetora e à família do Jack, por compartilharem essa história com a gente. E claro, por darem uma segunda chance ao Jack. =)


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