Inspiração

Ambientalista Greta Thunberg é eleita ‘pessoa do ano’ pela revista Time

11 • 12 • 2019 às 13:44
Atualizada em 11 • 12 • 2019 às 13:46
Karol Gomes
Karol Gomes   Redatora Karol Gomes é jornalista e pós-graduada em Cinema e Linguagem Audiovisual. Há cinco anos, escreve sobre e para mulheres com um recorte racial, tendo passado por veículos como MdeMulher, Modefica, Finanças Femininas e Think Olga. Hoje, dirige o projeto jornalístico Entreviste um Negro e a agência Mandê, apoiando veículos de comunicação e empresas que querem se comunicar de maneira inclusiva.

Nós já havíamos cantado essa: a ativista sueca Greta Thunberg é uma pessoa muito importante para a humanidade no momento em que vivemos. E hoje a Revista Time comprovou, elegendo-a personalidade do ano de 2019. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que chamou a ativista de “pirralha” ontem, era um dos concorrentes ao prêmio.

A capa da Revista Time

Tudo começou quando, em uma sexta-feira, a adolescente decidiu faltar à aula para protestar contra as recentes ondas de calor e incêndios que afetaram a Suécia. Ela se sentou em frente ao Parlamento com um cartaz com os dizeres “Em greve escolar pelo clima”. 

O protesto inspirou jovens de todo o mundo a criarem mobilizações, sempre às sextas-feiras, para que as autoridades cumprissem as metas de emissão de gases causadores do efeito estufa. 

Aos 16 anos, Greta deu início a um movimento internacional de estudantes chamado “Fridays for Future” (sextas-feiras pelo futuro), que pede medidas concretas para combater as mudanças climáticas. O ativismo já levou Greta para discursar nas Nações Unidas e até mesmo rendeu uma campanha pelo Prêmio Nobel da Paz em 2019 — vencido por Abiy Ahmed Ali, primeiro-ministro da Etiópia.

Greta em protesto contra o aquecimento global / Getty Images

Como pessoa do ano, Greta concedeu uma longa entrevista para a Revista Time, onde falou por jovens de todo o mundo: “Nós não podemos continuar vivendo como se não houvesse um amanhã, porque existe um amanhã. É isso que estamos dizendo”

Parece que a “pirralha” é mais esperta que muitos adultos, não é mesmo? Aliás, ela se empoderou da palavra e usou como descrição do seu Twitter, em português mesmo. 

Greta em ensaio para a Revista Time

A carreira de Greta no ativismo está só começando mas, assim como o reconhecimento, ela também tem recebido represálias, como a de Bolsonaro. O presidente do Brasil não é o primeiro a atacar adolescente e, curiosamente ou não, a maioria das críticas direcionadas a ela partem de homens adultos – o que levou as jornalistas Amanda Pinheiro e Renata Izaal a falarem com uma educadora e uma psicanalista a respeito, para uma coluna d’O Globo

Elas observaram que a garota tem sido ofendida por sua militância, por ser uma menina e, sobretudo, por ser diagnosticada com a síndrome de Asperger, que a enquadra dentro do espectro do autismo.

Em tom condescende e irônico, Donald Trump disse que Greta é “uma feliz menina jovem com um futuro brilhante e maravilhoso pela frente”, em resposta ao seu discurso na ONU, que conteve palavras diretas a políticos americanos e falas que viralizaram como: “Vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância com suas palavras vazias”. Na mesma época, o comentarista Michael Knowles, da Fox News, chamou Greta de “uma criança sueca com doença mental”.

Já Piers Morgan, comentarista do programa “Good Morning Britain” afirmou que Greta é “muito jovem e rainha do drama”. Depois dele, Jeremy Clarkson, Gustavo Negreiros e tantos outros também reclamaram sobre o posicionamento de Greta. 

São tantas as agressões que, há cerca de três meses, quando estava a caminho da ONU, Greta Thunberg usou suas redes sociais para comentar os ataques: “Como vocês devem ter notado, os haters estão mais ativos do que nunca — estão atrás de mim, da minha aparência, das minhas roupas, do meu comportamento e das minhas diferenças”. Ela continuou: ser diferente não é uma doença e a ciência disponível atualmente não é mera opinião. É fato”.

Para Luciana Brites, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber, os ataques contra Greta são misóginos – ser chamada de “louca”, “emocional demais”, “rainha do drama” e mal-humorada são ofensas às mulheres conhecidas como gaslighting. Mas ela afirma, em entrevista para O Globo, que existe um preconceito duplo: também com relação ao autismo. 

No mesmo artigo, a psicanalista Anna Lementy afirma que, apesar disso, as ofensas a Greta a tornam ainda mais forte. “O esforço que os homens fazem para minimizar o discurso dela — seja pela idade, pelo diagnóstico ou pelo gênero — cai no vazio porque Greta tem um discurso muito mais potente. E esses ataques chamam muito mais atenção para isso. A maneira como ela pega o termo que foi usado para diminuí-la e coloca na bio de suas redes sociais é genial. No fim das contas, Greta é muito mais inteligente do que os homens adultos que a atacam”.

Ainda bem, né?

Greta em ensaio para a Revista Time

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Fotos: Evgenia Arbugaeva / TIME


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