Debate

Antigas propagandas anti sufragistas mostram pavor em garantir à mulher o direito ao voto

01 • 12 • 2019 às 20:43 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A conquista de direitos pelas mulheres enfrentou barreiras que, mesmo em uma sociedade ainda dominada pela misoginia e o machismo, foram finalmente superadas. Como o direito ao voto, que até pouquíssimo tempo histórico atrás, era restrito aos homens brancos e endinheirados. A Nova Zelândia foi o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, em 1893. Nos EUA esse direito foi enfim permitido às mulheres em 1920, e no Brasil, somente em 1932 que à população feminina foi permitida a participação no processo eleitoral. Na Arábia Saudita, as mulheres só passaram a votar em 2011 – parece bizarro, e de fato é.

“Eu não fiz nada/ Mas não farei novamente”

Tratam-se de verdadeiros documentos históricos e material antropológico e até mesmo psicanalítico tais cartazes, revelando em especial a intensidade e a natureza do pavor que a possibilidade da participação feminina nos pleitos provocava nos homens. E mais: o quanto esse pavor era também incitado e até mesmo fabricado por tais campanhas, que seguramente eram movidas por preconceitos e interesses financeiros e de poder – e podemos imaginar o tipo de pessoa que estaria por trás dessas manipulações, mesmo no início do século XX, quando tais cartazes foram divulgados.

“O que as esposas selvagens estão dizendo?” (No cartaz: “Reunião das sufragistas”)

Além de manipular o imaginário sobre como eram as mulheres que lutavam por seus direitos – tosco repertório utilizado até hoje – as campanhas sugeriam que, caso votassem, as mulheres passariam a “mandar” em seus maridos, e “obriga-los” a cuidar da casa e da família. São cartazes ao mesmo tempo infantis e extremamente violentos, que espantosamente parecem vir direto dos grotões do pior imaginário atual. Curiosamente os cartazes ilustram tais mulheres fazendo exatamente aquilo que os homens historicamente sempre fizeram com elas.

“Eu queria tornar a ser solteiro”

Em todos os países em que a luta pelo sufrágio feminino aconteceu, as mulheres tiveram de enfrentar as mais escabrosas, difamatórias e mentirosas campanhas contrárias ao que deveria ser um direito essencial inquestionável para todo e qualquer cidadão. Olhar hoje esses cartazes é perceber que as fake news sempre existiram – e que a mentira é a base de todo preconceito, seja no passado, seja na atualidade.

“Minha esposa se juntou ao movimento sufragista (e eu venho sofrendo desde então)”

Pesquisar a história de nossos preconceitos e perceber como tanta ideias, que hoje soam delirantes e ultrapassadas, eram efetivamente odiosas e persecutórias é uma excelente maneira de tentar evitar esse mesmo olhar, no futuro, sobre nossos preconceitos atuais – e corrigir hoje o horror que, amanhã, será motivo de nossa própria vergonha.

“Resultado da vitória sufragista”

“NÃO case com uma sufragista”

“Aqueles a favor do sufrágio feminino levantem por favor a mão”

“Eu quero votar mas minha esposa não deixa” (No cartaz “Todos trabalho menos mamãe; ela é uma sufragista”)

“Eu não me importo se ela nunca mais voltar” (No quadro: “O que é um lar sem um pai”)

“Sufragista conquistando votos da maneira mais fácil”

“Eu quero votar!”

“Ninguém me ama – acho que vou virar uma sufragista”

“Paz, enfim”

As garotas estão fazendo todos os trabalhos dos rapazes”

“Paz, enfim”

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