Diversidade

Educadora é primeira indígena doutora da história da UnB

10 • 12 • 2019 às 17:16
Atualizada em 10 • 12 • 2019 às 17:22
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

A gente sabe que as universidades são ambientes bastante elitistas, que não necessariamente contam com a representatividade e nem com a inclusão social que nos é garantida constitucionalmente. Entretanto, ao passar dos anos e com incentivos por parte de políticas afirmativas, o cenário vem mudando aos poucos (ainda tem muito o que se fazer), mas começamos a ver novidades no cenário acadêmico.

Uma das boas notícias é que o Departamento de Antropologia da UnB aprovou o doutorado de Eliane Boroponepa Monzilar, 40 anos, filha do povo umutina, da região do Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. A agora doutora foi congratulada graças à sua tese ‘Aprender o conhecimento a partir da convivência: uma etnografia indígena da educação e da escola do povo Balatiponé-Umutina’.

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“Na universidade, não sou somente a Eliane. Represento um povo e isso é uma grande responsabilidade, não só por ser indígena, mas por ser mulher”, afirmou a pesquisadora sobre sua vivência dentro do espaço acadêmico.

Hoje, Eliane é professora em sua comunidade e em julho desse ano se tornou doutora. Ela reconhece as dificuldades que o sistema acadêmico impõe e como a sociedade, no geral, pode invisibilizar as origens e raízes de um ser humano e de um povo como um todo.

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“Só fui me entender enquanto indígena e pertencente a um povo quando ingressei na graduação. A população umutina foi praticamente exterminada, fisicamente e culturalmente, por todo o processo de colonização”, adiciona.

A doutora não teve oportunidade de fazer sua educação formal em uma escola indígena umutina e, após concluir sua graduação em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Mato Grosso, ingressou na pesquisa de seu próprio povo, quebrando um tabu do estudo antropólogico, que prefere uma pesquisa partindo de um especialista ‘estrangeiro’.

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“Consegui como resistência estar perpassando esse espaço, que é muito sistemático e radical, cobra muito de você. Ao estar na academia, pude dialogar e mostrar que existem outros saberes que a universidade precisa ter conhecimento. Antes, nossos povos eram objetos de pesquisa, hoje podemos nos pesquisar”, celebra a doutora.

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