Diversidade

Mulheres com deficiência esbanjam sensualidade em ensaio fotográfico

02 • 12 • 2019 às 22:32
Atualizada em 03 • 12 • 2019 às 22:25
Brunella Nunes
Brunella Nunes Jornalista por completo e absoluto amor a causa, Brunella vive em São Paulo, essa cidade louca que é palco de boa parte de suas histórias. Tem paixão e formação em artes, além de se interessar por ciência, tecnologia, sustentabilidade e outras cositas más. Escreve sobre inovação, cultura, viagem, comportamento e o que mais der na telha.

Sexo ainda é tabu em pleno 2019 e o assunto geralmente é tratado de forma imatura ou conservadora. Indo na contramão do imaginário coletivo, o ensaio fotográfico brasileiro “Amor Fati” esbanja toda a sensualidade das mulheres com deficiência para mostrar que sexualidade e tesão não combinam com padrões sociais.

A iniciativa é do projeto ‘Meu Corpo é Real‘, criado pela estilista e consultora de imagem Michele Simões, que já foi entrevistada pelo Hypeness. A campanha, que se traduz do latim como “Amor ao destino”, é lançada no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro.

A data serve para trazer visibilidade e conscientização. Dentro da descoberta dos prazeres até o esclarecimento de dúvidas sobre o próprio corpo ou da saúde, essas mulheres por vezes são negligenciadas inclusive na área da saúde. Eu me senti e ainda me sinto constrangida ao ir no ginecologista porque estamos falando de mais um território que não está preparado para lidar com mulheres com deficiência, relata Michele, que dividiu com o Hypeness como é uma ida ao consultório médico após ficar paraplégica. “Já cheguei a ser atendida por uma médica que se sentiu surpresa à possibilidade de eu ter filhos. É uma ignorância completa, desde se falar sobre prazer até a própria saúde”.

Outra questão que sempre é tratada de forma descuidada é exatamente sobre a fertilidade feminina, pois muita gente deduz que todas as mulheres com deficiência seriam incapazes de exercer a maternidade. De maneira recorrente elas são questionadas se podem ser mães. Por que surge essa associação imediata? A temática é muito ampla, mas de maneira geral existe um apagamento da sexualidade das pessoas com deficiência, que precisa começar a ser explorado, em relação aos desejos, ao pertencimento e até mesmo aos abusos“.

Mulher branca, ruiva de costas, os cabelos cacheados estão cheios de pétalas amarelas. Ela usa apenas uma meia calça transparente que tem um detalhe preto em formato de mão na nádega direita. Mão feminina com unhas pintadas pega na nádega esquerda.

Mulher branca, loira de cabelos compridos e cacheados está sentada em uma cadeira de rodas. Ela usa lingerie de renda transparente preta, uma saia preta e está com as pernas cruzadas. Ela está sorrindo, olha para o lado direito e em frente à barriga segura ramos vermelhos com flores amarelas.

Rompendo preconceitos através da moda, a ação “Amor Fati” usa a lingerie como ferramenta de empoderamento. Foram convocadas seis mulheres com o intuito de abordar a vivência da sexualidade para romper com a imagem fragilizada e infantilizada das pessoas com deficiência, cultuadas pelo senso comum.

A curiosidade do público em geral vem da surpresa em se pensar que uma pessoa com deficiência faz sexo. Há um espanto. Então a gente quis trazer histórias de mulheres para dar luz à uma fala que precisa ser muito debatida – conta Michele, idealizadora da campanha.

O ensaio fotográfico carregado de sensualidade, feminilidade e delicadeza foi clicado por Dário Matos, contando com co-direção criativa e direção de arte de Sofia Stipkovic. A produção e styling é assinada por Isadora Diógenes; a maquiagem por Taísa Lira e as roupas são de marcas parceiras: Mundo Marcolina, Janiero Body of Colours e Intensify-me.

Juntamente aos cliques também foi lançado um mini documentário, elaborado pela filmmaker Lívia Cadete e a consultoria de acessibilidade Sondery, para dar sequência à desmistificação do assunto e incentivar o abandono aos estereótipos. As modelos relatam sua relação com o sexo e Bárbara Barros, uma das participantes, resume bem a sensação de invisibilidade ao dizer: “somos assexuadas para o mercado”.

Com má formação congênita nas pernas, a atleta paralímpica Raissa Rocha posou para o ensaio sensual pela primeira vez, aos 23 anos. Se na adolescência não se aceitava e nem se sentia bem consigo mesma, hoje afirma que o jogo virou. “Minha autoestima está sempre melhorando, mas amo meu corpo!”. O esporte ajudou a desenvolver sua confiança. O próximo desafio para a recordista brasileira no lançamento de dardos pode ser, talvez, entrar num sex shop, tarefa que ela ainda não fez e que parece ser um bloqueio para várias mulheres.

Mulher negra de cabelos pretos crespos está de olhos fechados, sentada de pernas cruzadas em uma cadeira de rodas e segura em frente ao peito um ramo de flores azuis arroxeadas. Ela usa um soutien rosa com detalhes em renda preta.

Leia mais: Por que a sexualidade das pessoas com deficiência ainda é tabu

Mulher negra de cabelos crespos cheios e pretos está de costas com a cabeça virada para a direita, sentada em uma cadeira de rodas. Ela usa uma lingerie de renda branca e uma calcinha rosa.

Com o intuito de ampliar a noção sobre estes corpos, a produção audiovisual também leva ao público informações valiosas sobre as preliminares e a importância sensorial na hora de explorar o campo da intimidade com parceiros ou parceiras. Para a atleta paralímpica Jessica Messalli, o sexo começa no olhar, no toque nas costas, no cabelo:

“O contato sexual se torna muito mais amplo”.

 

Mulher branca, de cabelos com mechas loiras penteados para trás está sentada em uma cadeira de rodas com o corpo virado para o lado direito e as pernas para o lado esquerdo. Ela está com os braços levantados na altura do ombro, a mão direita por trás da cabeça e a outra acima do ombro. Usa uma lingerie de renda preta, com um decote em vê e uma calcinha preta alta. Ela tem tatuagem de patinhas no ombro esquerdo. Em frente a ela apoiado na roda da cadeira, há um ramo vermelho.

Não é porque uma pessoa tem deficiência que ela deixa se sentir tesão, de ter hormônios à flor da pele, de gozar ou de se sentir simplesmente atraente ou atraída por alguém. Desejo não é romance, é pensamento: o cérebro é um órgão sexual, segundo a ciência. O que ainda falta mesmo é abrir a cabeça. E se organizar direitinho, todo mundo transa!

O minidocumentário completo está no site ‘Meu Corpo É Real‘, Instagram e Facebook. Mas você também pode assisti-lo abaixo:

Uma mulher branca é vista do pescoço até o joelho, de cabelos castanhos, ela usa um body bege e, por cima dele, um soutien preto abaixo da linha dos seios e uma peça de lingerie preta na altura da cintura. Em frente à ela, desfocados, há alguns ramos de plantas.

Mulher branca, ruiva está sentada em um pano roxo com as pernas dobradas e apoia as mãos no chão. Cabelos cacheados escondem a parte esquerda do rosto e ombro. Ela olha para cima e os lábios vermelhos de batom se abrem num largo sorriso. Ela usa soutien e calcinha pretos e uma bermuda bege transparente. À frente dela estão flores amarelas de caule verde. Em ambos os lados há pontos amarelos desfocados.

Leia mais: 5 iniciativas mostram que pessoas com deficiência tem as mesmas necessidades que todas as outras

Uma mulher branca é vista do pescoço para baixo, de cabelos castanhos usa um body bege com flores amarelas colocadas no decote, ela segura os seios por baixo. Ela usa um soutien preto abaixado por cima do body.

Mulher branca, loira de cabelos compridos e cacheados sorri, com o rosto levantado. Com o braço direito ela segura um ramo vermelho com flores amarelas por cima da cabeça, o outro braço está caído ao lado do corpo. Ela está sentada em uma cadeira de rodas e usa lingerie de renda preta transparente.

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