Ciência

Esta droga é capaz de apagar a dor das más lembranças de um relacionamento amoroso

27 • 02 • 2020 às 09:14 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Sim, você já ouviu essa história antes, e um pesquisador de Montreal, no Canadá, afirma ter desenvolvido um novo tratamento capaz de acabar com a dor causada por uma separação e por outras experiências traumáticas. Utilizando um betabliqueador e uma terapia direcionada, o cientista Alain Brunet tornou o enredo do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry, uma história essencialmente realista, através do que chama de “Terapia de Reconsolidação”.

Cena do filme de Michel Gondry

Diferentemente do filme, porém, as memórias em seu tratamento não desaparecem, mas deixam de doer. Para tal, Brunet utiliza o propralonol, um bemabloqueador utilizado há tempos em tratamentos de doenças como enxaqueca e hipertensão – a ser ingerido cerca de uma hora antes de uma sessão de terapia, na qual o paciente deve descrever e registrar com detalhes seu trauma, e em seguida ler o registro em voz alta. A ideia é que o tratamento desbloqueie o trauma e, assim, atualize a memória com outro efeito sobre a psiquê do paciente. “Estamos usando esse entendimento aprimorado sobre como as memórias são formadas e como são desbloqueadas, atualizadas e salvas novamente — estamos usando essencialmente esse conhecimento recente da neurociência para tratar pacientes”, afirma Brunet.

Alain Brunet

O propralonol atua justamente sobre a amígdala, onde o aspecto emocional da memória é registrado, inibindo a dor e permitindo ao cérebro “salvar” novamente a lembrança com menos emoção e trauma envolvidos. Segundo o cientista, 70% dos pacientes envolvidos na pesquisa relataram alívio após o tratamento – que já foi utilizado para sobreviventes de atentados terroristas e, após, para quem sofre das dores do amor.

A pesquisa foi realizada em parceria com Roger Pitman, da Universidade de Harvard, e já tratou de 400 pessoas somente na França, após os atentados em Paris e Nice. Atualmente 60 pessoas estão sendo recrutadas em Montreal para aplicação justamente sobre casos de decepção amorosa profunda, mas, segundo Brunet, a ideia é que seu tratamento possa ser aplicado sobre qualquer sofrimento que emane de um evento emocional.

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