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“Quando vocês superarem as barreiras de filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis”, foi o que afirmou Bong Joon Ho ao ganhar o Globo de Ouro, no início desse ano, pelo filme ‘Parasita’. O inovador longa da Coreia do Sul foi o maior vencedor da Oscar na última noite. A narrativa de luta de classes que transita pelo suspense, comédia, drama e terror foi premiada com as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional.
‘Parasita’ foi o primeiro longa de língua não-inglesa a ganhar o Oscar de Melhor Filme. Em 2011, ‘O Artista’, produção francesa, levou o prêmio, mas o filme era mudo. A conquista simbólica de de Joon Ho pode ser um grande passo para a internacionalização do cinema, descentralizando as produções e democratizando o acesso às salas de cinema.
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A vitória de Parasita em 4 das 6 categorias que disputou surpreendeu não pela qualidade do filme – mas por Hollywood finalmente reconhecer que há bom cinema fora dos EUA e da Europa
Mas quem pensa que ‘Parasita’ foi um produto isolado está enganado. A onda coreana do cinema, chamada de Hallyuwood (hallyu = invasão coreana), vem de muitos anos de trabalho por parte do governo coreano e pelos talentosíssimos diretores e atores do país asiático.
Confira o momento em que Bong Joon Ho recebeu o Oscar de Melhor Ator:
#Oscars Moment: Bong Joon Ho accepts the Oscar for Best Directing for @ParasiteMovie. pic.twitter.com/b7t6bYGdzw
— The Academy (@TheAcademy) February 10, 2020
Bong Joon Ho não foi o primeiro diretor da Coreia do Sul a ser aclamado pela crítica internacional e, em especial, a americana. Com o forte crescimento do cinema sul-coreano desde 1990, grandes diretores surgiram antes da cabeça por trás de ‘Parasita’.
O principal nome antes Joon Ho foi Park Chen-wook, diretor de ‘Oldboy‘, de 2003. O diretor ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes pelo longa e foi um dos primeiros coreanos a entrar para Hollywood. Oldboy é considerado um dos principais filmes da história do cinema junto de sua prequel ‘Sympathy for Mr. Vengeance’ e sua sequel ‘Lady Vengeance’, compondo a aclamada Trilogia da Vingança.
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Oldboy é considerado em dos maiores filmes da história e é, sem dúvida, o maior clássico do cinema coreano. Ao menos, até Parasite
Posteriormente, Chen-wook foi para Hollywood, onde dirigiu o filme ‘Stoker’ e, posteriormente, na adaptação de ‘The Little Drummer Girl’ do livro homônimo de Jon Le Carré para a BBC de Londres.
Outro diretor aclamado nas telas coreanas e que depois foi para Los Angeles é Kim Jee-woon. O diretor de ‘A Quiet Family’ e ‘A Bittersweet Life‘, filmes que foram fortemente premiados e levaram o diretor pra produções hollywoodianas inclusive trabalhando com Arnold Schwarzenegger.
O próprio Bong Jon Hoo já era um diretor aclamado nos mercados alternativos, especialmente por seu filme ‘O Hospedeiro’. O filme é um terror bastante diferente de ‘Parasita’ em tema, mas tem uma continuidade de direção similar. Agora, resta saber se a glória de Jon Hoo vai continuar nas terras coreanas ou se o diretor assumirá produções de Los Angeles.
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Sabemos que existe um grande debate sobre o financiamento público de cinema no Brasil. Governos recentes buscaram reduzir o investimento do governo em produções nacionais e a classe artística reclama dos cortes de investimento para a Ancine e para o Fundo do Audiovisual.
Na manhã de hoje (10), Parasita estampou a capa de todos os jornais da Coreia. Foi a primeira vez que um filme de fora do Ocidente levou a categoria
O modelo de produção cinematográfica sul-coreana pode apontar qual é o sentido da produção. Como estratégia para combater o poder da Coreia do Norte e se demonstrar influenciadora dos gostos da região, desde os anos 90 o governo do Sul tem tomado ações de investimento na cultura para poder exportar seus produtos e ganhar influência cultural ao redor do mundo.
Hallyuwood é uma dessas indústrias. Com aportes milionários do governo em fundos de investimento privados de financiamento cinematográfico, a verba para a produção de filmes com recursos não é escassa em um país muito menor do que o Brasil.
Song Kang-Ho é uma das grandes estrelas de Parasita, mas participa de Hallyuwood desde o considerado primeiro filme da indústria: ‘Shiri’, de 1999
Além disso, leis de controle contra o domínio de Hollywood existem e são cumpridas. Segundo as leis de controle do país, durante 146 dias de um ano as salas de cinema coreano devem passar filmes nacionais. No último ano contado, 2018, os filmes coreanos representaram mais da metade (52%) de toda a bilheteria das pouco mais de 2 mil salas do país.
O diretor de ‘Bacurau’, Kleber Mendonça Filho, utilizou a vitória do filme coreano para levantar o debate sobre o financiamento público e leis de distribuição de cinema no país:
Bom saber que o cinema coreano tem forte investimento público (dinheiro público) em formação, produção e exibição. E lá filme de boneco americano também passa, mas não toma 93% das salas porque isso é proibido, tem lei de proteção ao filme nacional. Como deve ser.
— Kleber Mendonça Filho (@kmendoncafilho) February 10, 2020
Ao enxergar o cinema como uma indústria poderosa e capaz de dominar o mundo, a Coreia do Sul passou a trata-lo exatamente como ela trata outras indústrias, como tecnologia, agricultura, indústria, etc. Dessa maneira, com fortes investimentos e regulações claras e protetivas à cultura nacional, hoje ela domina o mundo com o K-pop, a televisão de toda a Ásia com suas novelas e agora o maior prêmio da sétima arte de todo o planeta. Talvez exista alguma lição pra se tirar disso.
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