Debate

Luiz Bacci diz para mãe ao vivo que filha foi morta e mostra que jornalismo policialesco é nocivo

18 • 02 • 2020 às 16:18
Atualizada em 19 • 02 • 2020 às 18:27
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

O jornalismo sensacionalista não é uma novidade nas redações e televisões brasileiras. Trocando tudo por audiência, programas televisivos na linha do ‘espreme que sai sangue’, com temática policial, abusam dos sentimentos de pessoas para que subam um pouquinho na medida do IBOPE.

O programa ‘Cidade Alerta’, da Record, passou de todos os limites. Durante o policialesco, o jornalista Luiz Bacci informou ao vivo à uma mãe que sua filha havia sido assassinada. A câmera ligada se manteve ligada para captar a reação da mãe. Porque, para eles, o que conta é a audiência.

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Luiz Bacci cometeu erro editorial grotesco no Cidade Alerta e o público criticou a atitude do programa

Noticiar crimes e fatos chocantes sempre fez parte do jornalismo. A crueldade humana é objeto de curiosidade e espanto, disso não há dúvida. No entanto, a frequente utilização desse tipo de conteúdo para manter a audiência é a maneira como a redação de algumas emissoras se mantém.

O jornalismo policialesco não é antigo no Brasil. Desde seus primórdios no jornais impressos, como o Notícias Populares, até os televisionado ‘Aqui Agora’, do SBT, a invenção de factoides e a exploração de vítimas para chocar a sociedade foram fatores que sempre estiveram vivos na mídia brasileira. O que Bacci fez, no entanto, ultrapassa vários limites.

No caso de Luiz Bacci, o teor do crime, um feminicídio, ainda evidencia a insensibilidade do jornalista e de toda a equipe do ‘Cidade Alerta’. Não só Bacci é responsável, mas os editores e executivos do jornalismo da Record também são respondem por esse tipo de produção.

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Ética jornalística e a vida real

Comunicar uma mãe da morte de um filho é o tipo de coisa que não se faz ao vivo na televisão. Quem deveria informá-la eram as autoridades  – que não deveriam ter vazado a informação para o programa de Bacci. Além de isso atrapalhar o trabalho da própria polícia, expõe a mãe da vítima à uma situação de constrangimento nacional.

Luiz Bacci parece se importar apenas com os número da audiência

A falta de ética observada no dia de hoje remonta ao caso Eloá, em 2008, quando, em busca da audiência, a apresentadora Sônia Abrão impediu a polícia de negociar com um sequestrador. Após os negociantes não conseguirem lidar com o sequestro porque a linha do criminoso estava ocupada, as negociações se tornaram cada vez mais complexas e Eloá acabou assassinada. Sônia foi duramente criticada após o evento.

A atitude de Bacci e o caso de Sônia Abrão evidenciam a máxima de Danilo Sobrinho, comunicólogo que estudou o jornalismo sensacionalista na obra ‘Espreme que sai Sangue’. “A mensagem sensacionalista é, ao mesmo tempo, imoral e moralista”. Para passar a mensagem do que é errado, exibe e subsiste desse tipo de conteúdo.

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Denúncia ao Ministério Público

O Intervozes, responsável pela fiscalização dos direitos humanos na comunicação, denunciou a Record TV ao Ministério Público Federal (MPF), conforme informou o Observatório da TV. 

O órgão quer que o MP se posicione após o ocorrido na edição do ‘Cidade Alerta’ da terça-feira (18), apresentada por Luiz Bacci, que noticiou ao vivo para a mãe – que desmaiou ao vivo – a morte da própria filha, assassinada pelo namorado.  A decisão de Bacci, insensível e irresponsável, foi duramente criticada nas redes sociais.

Veja também o documentário ‘Quem Matou Eloá’, que busca compreender o papel da mídia sensacionalista na vida humana:

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Fotos: foto 1: Reprodução/Instagram/foto 2: Reprodução/Record TV


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