Diversidade

Por que Jéssica Ellen é a personagem mais importante de ‘Amor de Mãe’

06 • 02 • 2020 às 12:54
Atualizada em 06 • 02 • 2020 às 13:08
Karol Gomes
Karol Gomes   Redatora Karol Gomes é jornalista e pós-graduada em Cinema e Linguagem Audiovisual. Há cinco anos, escreve sobre e para mulheres com um recorte racial, tendo passado por veículos como MdeMulher, Modefica, Finanças Femininas e Think Olga. Hoje, dirige o projeto jornalístico Entreviste um Negro e a agência Mandê, apoiando veículos de comunicação e empresas que querem se comunicar de maneira inclusiva.


As vezes acontece: o protagonista da novela não cai tanto no gosto do público quanto esperado e então um antagonista assume a frente da história e conquista o coração dos espectadores. Com que está no ar atualmente, no horário das 21h, na Rede Globo, a personagem secundária desbancou três destaques e todas gigantes: a Lurdes de Regina Casé, a Thelma de Adriana Esteves e a Vitória, de Taís Araújo

Embora a principal pergunta ainda seja a que envolve a maioria das tramas da novela – “quem é o filho perdido de Regina Casé em ‘Amor de mãe’?” – é sobre Camila que os telespectadores querem saber mais, de acordo com um estudo do Google encomendado pela a coluna de Patrícia Kogut no O Globo. Mais uma prova de que a personagem de Jéssica Ellen é muito importante para o momento em que vivemos. 

Mulher real 

A novela tem relatado todos os tipos de maternidade e as mulheres reais por trás delas. Mas é com Camila, que agora, segundo a trama da novela, não pode mais ser mais naturalmente, que o público tem se identificado mais. 

Ela é uma mulher real, sem romantização e o roteiro dado a ela a permite ser bem honesta sobre suas vivências como negra, professora, ativista e muitas outras camadas. 

Uma cena de Camila viralizou nos últimos dias, por mostrá-la falando que ser mulher em seu contexto cansa sim e que nem sempre é possível ou desejável ser uma guerreira. Relembre: 

Que ama e é amada

O último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, comprova essas narrativas: mais da metade das negras não vive em união conjugal.

Comprovada pela pesquisa de Claudete Alves (publicada no livro “Virou Regra?”) a solidão da mulher negra é uma realidade em um país racista como o Brasil, que reproduz estereótipos em novelas, tendo mulheres negras sempre como amantes e/ou subordinadas. O último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, comprova essas narrativas: mais da metade das negras não vive em união conjugal.

Nada disso quer dizer que as mulheres negras não merecem serem vistas e amadas – pelo contrário. Em “Amor de Mãe”, Danilo (Chay Suede) declarou seu amor por Camila e casou com ela mesmo contrariando o desejo de sua mãe de ter netos – e ele não faz mais do que obrigação!

A novela já exibiu o casamento do casal, com Jéssica usando um vestido feito à mão e exclusivamente para Camila, que comoveu os espectadores na web.

Para algumas pessoas, a beleza de Jéssica Ellen vestindo um modelo simples e, ao mesmo tempo sofisticado, combinado com acessórios de referência afro, despertou a vontade de casar que estava adormecida. Para outras, ela parecia mais uma “deusa africana” indo ao altar.

 

Representividade importa, né?

E muito bem graduada, obrigada

Mesmo que tenha sido na base de uma luta que ela mesma critica, Camila já começou a novela assim: se formando em pedagogia para depois se tornar uma excelente professora.

No Brasil que, pela primeira vez na história, tem a maioria de negros nas universidades, este fragmento da personagem de Jéssica Ellen também é bastante representativivo. Não basta somente lutar para entrar na faculdade, é preciso lutar para permanecer mesmo com dificuldades de acesso e financeiras – e ela conseguiu!

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