Debate

Por que mesmo apoiando luta, Alessandra Negrini não deveria se ‘vestir’ de índia no Carnaval

17 • 02 • 2020 às 14:15
Atualizada em 18 • 02 • 2020 às 21:35
Karol Gomes
Karol Gomes   Redatora Karol Gomes é jornalista e pós-graduada em Cinema e Linguagem Audiovisual. Há cinco anos, escreve sobre e para mulheres com um recorte racial, tendo passado por veículos como MdeMulher, Modefica, Finanças Femininas e Think Olga. Hoje, dirige o projeto jornalístico Entreviste um Negro e a agência Mandê, apoiando veículos de comunicação e empresas que querem se comunicar de maneira inclusiva.

Amada pela internet e musa do Carnaval de São Paulo com o Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta pelo oitavo ano consecutivo, Alessandra Negrini está sendo julgada online. A acusação é de apropriação cultural e desrespeito a cultura indígena e a ‘sentença‘ pode ser o cancelamento da atriz.

Sai ano, entra ano, a atriz é lembrada por sua beleza e energia positiva durante o Carnaval. Em 2020, ela puxou o tradicional cortejo carnavalesco paulistano vestida de índia – desde 2017, quando a artista e ativista indígena Katú Mirim lançou a hashtag #IndioNãoéFantasia, o assunto entrou em voga. Mas, dessa vez, muita gente achou que o histórico de Negrini deveria imunizá-la das problematizações.

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Índio não é fantasia 

Quando a atriz apareceu na concentração do bloco, no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, estava acompanhada de índigenas e da líder indígena Sônia Guajajara. Contudo, a posição de Sônia não é a mesma que a de outros ativistas, que são contra atitudes como a de Negrini. 

Na semana passada a própria Katú chegou a relembrar, em post no Facebook, que como índia, encara a opção pela fantasia como racismo, e não homenagem, assim como comunidades negras são contra fantasias de escravos, ‘nega maluca’ e outras fantasias racistas.


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Em fala recente ao site da Vice Brasil, ela voltou a afirmar que trata-se de uma prática racista. 

Partindo da ideia de que a população nos conhece como ‘alegoria nacional’, acham que somos atrasados, selvagens, primitivos e que não sabemos falar português direito, por que não é racista? Não é okay pintar algo na cara, colocar cocar, falar ‘mim’, colocar uma fantasia de ‘índio’ enquanto nós indígenas somos invisibilizadas, assassinadas e estupradas. Para mim e muitas etnias, o cocar é símbolo de resistência. É sagrado, e não deve ser usado de qualquer maneira. Quando eu vejo a fantasia, a réplica barata de um cocar, eu só penso que esse racismo é aplaudido enquanto meu povo morre.

Na mesma reportagem, outros índios ativistas deram sua opinião sobre a questão. Para David Karai Popygua, “chega de hipocrisia e de dizer que é homenagem, sinceramente, há formas ótimas de nos homenagearem”. 

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Já Yuninni Terena afirmou que esta é uma das maneiras de opressão vividas pelos povos originários, pois pegam elementos sagrados da cultura, enraizados com fortes significados, pinturas e grafismos com definições, pré determinados para rituais ou momentos específicos e usam como fantasia, adereços de beleza e simples acessórios para diversão.

Depois da aparição de Negrini, outros índios se manifestaram pelo Twitter e muitas pessoas reprovaram a atitude da atriz. Sobre a fantasia, Alessandra disse à Folha de São Paulo que se tratava de uma ousadia e uma homangem. “A luta indígena é de todas”Aqui pra nós, não se trata de ‘cancelar’ ninguém, mas precisa se ‘fantsiar’ de índia para dizer que apoia a luta? 

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Foto:  Reprodução/Twitter


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