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A trajetória dos últimos anos do poeta brasileiro Belchior virou um grande evento midiático. O ‘Fantástico’, da Globo, fez uma série de reportagens – hoje difíceis de serem vistas – perseguindo o cantor e sua esposa em cidades do Rio Grande do Sul e no Uruguai. Durante suas paradas pelo Sul do nosso país, ele ficou por três meses na casa de Marina Trindade, em Santa Cruz do Sul (RS). Ela contou ao Hypeness alguns detalhes da estadia do rapaz latino-americano em sua residência e alguns momentos que compartilhou com o ‘Bel’, como ela o costumava chamar.
Um homem e seu tempo: Belchior é um dos grandes nomes do panteão da música popular brasileira
Tudo começou com uma thread no Twitter, em que Marina relatou a estadia do cantor:
curiosidades e melhores momentos sobre como foi morar com o #belchior por 3 meses – a thread
vou detalhar por aqui como foi essa experiência doida de conviver com um mestre poeta músico e, acima de tudo, esse rapaz latino americano sem dinheiro no banco pic.twitter.com/x3t8custKp
— marina (@zipperbluesss) April 1, 2020
“O Belchior meio que caiu de paraquedas na casa dos meus pais. Ele já estava na casa de um amigo nosso, Dogival Duarte, que é jornalista e radialista aqui da cidade, mas sem a gente saber de nada. Até que num belo dia o Dogival nos apresentou e perguntou se o Bel poderia ficar um tempo morando com a gente”, contou Marina ao Hypeness.
– Belchior e seus versos sempre atuais nos dão força em tempos incertos
O que diria Blechior sobre os tempos atuais?
Ela tinha aprendido a apreciar algumas canções de Belchior desde criança, por influencia de seus pais. Mas foi o maior ‘hit’ de Bel, ‘Como Nossos Pais’, que entrou na cabeça de Marina durante sua adolescência.
“Lembro que quando eu tinha uns 16 anos, comecei a ouvir quase todos os dias a música “Como nossos pais” e ficava encantada com a letra. Mas meu conhecimento da obra do Bel não passava muito disso, eu escutava em torno de 10 a 15 músicas dele quando o conheci.”
Marina relatou que Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, como dizia ser seu nome, teve uma grande influência em sua vida. A hoje formada em História da Arte estava na dúvida entre este curso e Psicologia. Ele recomendou que ela tomasse o primeiro caminho.
ele me indicou o livro “História Social da Literatura e da Arte” do Arnold Hauser, que futuramente de fato eu tive contato quando consegui entrar no instituto de artes pic.twitter.com/R7hwc2zGb4
— marina (@zipperbluesss) April 1, 2020
“A partir do momento que nos conhecemos, durante as jantas falávamos de algumas de suas músicas. Então conheci e acabei me encantando por músicas dele como Balada da Madame Frigidaire e Na Hora do Almoço. Porém foi com ele próprio que fiquei sabendo de uma parte da riqueza de sua obra, que ia além das canções: os desenhos e pinturas que ele fazia nesses tempos em que estava sumido da mídia.”
Algumas das ilustrações que Belchior fez de Carlos Drummond de Andrade
Durante sua estadia, ela deu a Belchior um caderno dos Beatles, que ele encheu de poemas que talvez até hoje não tenhamos acesso. Ele retribuiu Marina com um recado, com sua tradicional caligrafia. Ela guarda o registro até hoje.
Teve uma noite que ele quis escrever algo pra mim. Bem na hora que entreguei meu diário, acabou a luz, começou a chover. Já era noite. Me pediu velas e disse pra ficar a sós. Eis que ganhei isso: pic.twitter.com/OVWqeTTFM1
— marina (@zipperbluesss) April 1, 2020
Seria natural que me surgisse, como jornalista, uma curiosidade: será que em algum momento Belchior disse o porquê de sua reclusão? A resposta foi como a esperada: “Era uma escolha dele viver assim, longe da mídia, das pessoas, da família. Ele optou por uma vida reclusa, e gostava dessa experiência de conviver com pessoas desconhecidas. Ele gostava da troca que gerava entre ele e essas pessoas”, explicou Marina Trindade.
Belchior saiu da casa dos Trindade após três meses, em dezembro de 2013. A família manteve o segredo até o início de 2014, mas Marina só expôs sua experiência – que você pode ler na íntegra no Twitter dela – nesse estranho ano de 2020.
A melhor memória que tenho com ele foi quando estávamos jantando um ao lado do outro e ele olhou pra mim e começou a perguntar sobre a minha vida, sobre os lugares que eu gostaria de conhecer, das viagens que eu fiz, sobre meu futuro como historiadora da arte. Ali eu me encantei ainda mais por ele, porque além de ser um compositor incrível, um poeta e músico, é uma pessoa de puro afeto, carinho.
A estadia, entretanto, teria um desentendimento. Ou melhor, discordância – das melhores possíveis. Marina preferia a voz de Belchior. Ele, a de Elis. “As memórias que tenho com ele são todas dele sorrindo, narrando as experiências que ele teve, falando dos músicos que ele apreciava no Brasil. E ah, quando começou a tocar Como Nossos Pais na rádio também é uma lembrança muito boa. Porque falei pra ele que a minha versão preferida é a dele. E ele me olhou, riu e disse que preferia da Elis pois ela fez algo que ele nunca teria conseguido alcançar com essa música”, nos conta.
Para terminar, perguntei à Mari qual era sua música favorita de Belchior. Ela me disse que em meio a tantas, ‘Fotografia 3×4’, do disco ‘Alucinação’, se sobressaia. Que você, caro leitor, embarque na história do jovem que chegou do norte e dormiu na rua (e na casa da família Trindade, também).
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