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Coronavírus: Brasil já tem mais enfermeiras mortas do que Itália e Espanha

07 • 05 • 2020 às 18:16 Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Um dos índices que mais preocupa no Brasil é a alta mortalidade profissionais de saúde devido à nova pandemia de coronavírus. As enfermeiras que trabalham na linha de frente para cuidar dos infectados estão sofrendo com a precariedade da infraestrutura hospitalar brasileira e os números simbolizam isso: já temos mais profissionais da enfermagem mortos por covid-19 no nosso país do que Itália e Espanha juntas.

Se a subnotificação e a lotação das UTIs continua sendo um problema no nosso país, a morte das enfermeiras tem se mostrado outro problema de saúde pública. Desde o início da pandemia, segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), 88 mortes de profissionais de enfermagem foram confirmadas no nosso país. Somadas, Itália e Espanha tiveram 46 mortes no total.

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Enfermeiras na linha de frente da batalha contra o coronavírus estão sendo uma das grandes vítimas da doença; profissão é considerada a mais importante durante a pandemia

Desde o início da crise no país os hospitais já apontavam a falta de EPIs, os equipamentos de proteção individual. Sem esse tipo de proteção, os profissionais, que lidam com pacientes infectados e muitas vezes com uma grande carga viral acabam infectados rapidamente. Combinado a esse problema, muitos hospitais não dispensaram os funcionários do grupo de risco e com comorbidades.

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“Um dos fatores [para a alta mortalidade] é que boa parte dos serviços de Saúde não afastou profissionais com idade avançada, acima de 60 anos, e com comorbidades. Eles continuam atuando na linha de frente da pandemia quando deveriam estar em serviços de retaguarda ou afastados”, afirmou Manoel Neri, presidente do Conselho Federal de Enfermagem, ao El País.

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Esta situação gravíssima reflete a escassez de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), treinamento adequado das equipes, profissionais de grupos de risco mantidos na linha de frente do atendimento, subdimensionamento das equipes, dentre outros fatores. Não somos máquinas“, contou Neri ao UOL.

Com a redução das equipes de profissionais na linha de frente da batalha contra a covid-19, nossa recuperação será ainda mais difícil. Além da saúde física, a saúde mental desses profissionais certamente acaba se deteriorando com a perca de companheiros de profissão. A incapacidade dos governos em prover testagem, equipamentos de proteção e manter a quarentena são apenas algumas das evidências que revelam o porquê do Brasil já estar sendo considerado o novo epicentro da pandemia. Estudos da USP indicam que o número de casos no nosso país já superou os EUA, país com o maior número de infectados confirmados.

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