Debate

Coronavírus fez entregadores de delivery trabalharem mais e receberem menos

08 • 05 • 2020 às 18:01
Atualizada em 23 • 07 • 2020 às 10:33
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Uma pesquisa comandada pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) e divulgada pela BBC Brasil afirmou que os entregadores de delivery por aplicativo – como Rappi, Ifood, Loggi e Uber Eats – estão trabalhando cada vez mais durante a pandemia do coronavírus e que não estão recebendo mais por isso.

Segundo o levantamento, feito com 226 entregadores em 26 cidades do Brasil, o rendimento médio dos trabalhadores não cresceudurante a pandemia, enquanto o número de horas trabalhadas aumentou. O estudo indica que 77,4% dos entregadores trabalham pelo menos 6 dias por semana. Equipamentos de proteção, como máscaras e álcool gel, não são de responsabilidade da empresa e por isso, muitos deles acabam trabalhando por horas desprotegidos em meio à pandemia.

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Gráfico indica que rendimentos acima de 650 reais por semana diminuíram durante a pandemia

Como boa parte desses entregadores não tem vínculos empregatícios com as empresas que os “conectam com os pedidos”, existe uma grande insegurança sobre as responsabilidades entre os apps e os motoboys. O valor das corridas não é fixo e isso pode levar a uma redução do rendimento dos profissionais durante o período. Além disso, a desobrigação de fornecer equipamentos de proteção individual surge desse vácuo trabalhista.

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Com o aumento da quarentena, os serviços de Delivery aumentaram de maneira como nunca se viu no Brasil. Mas isso não quer dizer que esse aumento na conta das empresas vai se direcionar para a parte mais importante do serviço, a entrega:

“O trabalhador já vive no limite financeiro e não pode parar. Não interessa se a saúde está em risco, se eles não estão dando proteção ou garantias de trabalho. A Rappi em março teve um aumento de 300% do número de cadastros. Provavelmente aumentou o contingente enquanto está rebaixando o valor da hora de trabalho sem deixar isso claro. Inclusive não há nenhuma pré-determinação do valor mínimo da hora de trabalho desses motociclistas”, afirmou a professora da Unicamp Ludmila Costhek Abílio e coordenadora da pesquisa à BBC Brasil.

Em manifestação em 17 de abril de 2020, entregadores pedem mais direitos e proteção durante a pandemia

A indignação da classe tem aumentado como nunca antes se viu. No último dia 17, uma manifestação de motoqueiros de aplicativo se reuniu na Avenida Paulista pedindo mais direitos e segurança durante a pandemia. Um motoboy fez um importante relato ao The Intercept Brasil relatando a precarização e a dificuldade de conseguir auxílio das empresas:

A gente sabe que as empresas estão ganhando muito mais, tanto é que elas pararam de divulgar o faturamento. Sabemos que a (empresa de delivery) Rappi em fevereiro tinha tido crescimento de 30% na América Latina, mas depois não temos mais dados. O mais importante pra gente pensar agora é que os motofretistas viraram trabalhadores de serviço essencial e precisam ser valorizados”, complementou Ludmila Costhek Abílio.

Com exceção da Ifood, nenhuma das empresas de entrega (Rappi, Loggi e Uber Eats) negaram uma redução de rendimentos. À BBC, questionaram a metodologia da pesquisa, afirmando que foram poucos entrevistados. A Ifood, entretanto, afirmou que “não houve redução no valor das entregas durante a pandemia, o que significa que a afirmação de que ‘os entregadores estão trabalhando no mínimo a mesma quantidade de horas e ganhando bem menos’ não é aplicável aos entregadores que trabalham com o iFood”.

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