Ciência

Por que as gloriosas cidades dessa civilização antiga eram queimadas a cada 60 anos

04 • 05 • 2020 às 10:07 Gabriela Glette
Gabriela Glette Uma jornalista e produtora de conteúdo que mora na França. Apaixonada por viagens e inquieta por natureza, ela encontrou no nomadismo digital o segredo de sua felicidade, e transforma a saudade que sente da família e amigos em combustível para escrever suas histórias. Gabriela também é fundadora do site Quokka Mag, onde fala apenas sobre coisas boas!

O mundo já viu desmoronar uma série de civilizações, mas o fim acontecia por guerras ou doenças, nunca por livre e espontânea vontade. No entanto, com os Cucuteni-Trypillianos, que existiram por 2 mil anos 3200-2700 aC), as coisas eram diferentes. Este povo que vivia na Europa Oriental, onde hoje fica a Romênia e a Ucrânia, tinha um costume curioso de incendiar suas cidades intencionalmente e repetidamente a cada 60 anos.

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Se até pouco tempo os estudiosos quase desdenharam a noção de que a Europa Oriental neolítica poderia ter desempenhado um papel importante no avanço humano, a descoberta deste povo transformou esta noção. Os Cucuteni-Trypillianos habitaram a região que conhecemos hoje como Moldávia, que abrigava não somente abrigava a maior adega que o mundo já conheceu até hoje, como tinha ruas subterrâneas e regras de trânsito muito próximas as que temos atualmente.

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Evidências sugerem que, no seu auge, essa era uma das sociedades tecnologicamente mais avançadas do mundo na época, que desenvolvia constantemente novas técnicas para produção de cerâmica, habitação e agricultura. Além disto, uma das características mais apaixonantes desta sociedade era sua adoração à mulher e ao princípio do sagrado feminino.

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Diferente de muitas outras civilizações antigas, os grandes ídolos deste povo eram mulheres. Por volta da década de 1980, a descoberta do imenso sítio arqueológico Poduri, revelou traços únicos dos Cucuteni-Trypillianos. O lugar não somente revelou treze níveis de habitação que foram construídos um sobre o outro ao longo dos anos, como traços de queima metódica e cerimonial.

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A civilização habitava onde hoje fica a região Vinícola de Rascov

Devido à incrível quantidade de figuras femininas que foram encontradas, alguns estudiosos argumentaram que os Cucuteni-Trypillians eram uma sociedade pacifista liderada por mulheres, mas pouco se sabia sobre a prática de atear fogo a tudo a cada 60 anos. Mesmo porque, para incendiar intencionalmente um assentamento inteiro, seriam necessárias enormes quantidades de tudo o que estavam usando como combustível, além de um esforço comunitário altamente organizado.

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As teorias

Exitem diversas teorias por trás desta incrível civilização. Enquanto a da renovação urbana afirma que as construções teriam sido suscetíveis à deterioração ao longo do tempo, possivelmente até problemas com cupins; a do “domicílio” alega que os prédios foram queimados “ritualmente, regularmente e deliberadamente, a fim de marcar o fim da ‘vida’ da casa”. Isto porque, a teoria postula que os membros da cultura Cucuteni-Trypillian acreditavam que objetos inanimados, como casas, tinham almas ou espíritos.

Quadro de Vikentiy Khvoyka, século XIX

Por fim, alguns arqueólogos dizem que a destruição sistemática de todo o assentamento, existia a fim de deixar para trás o tipo de evidência encontrada nos sítios arqueológicos. 

Simulação de uma queimada Cucuteni-Trypillian

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