Redação Hypeness - 08/07/2020 | Atualizada em - 13/07/2020
Muito mais que meros comfort movies, filmes de comédia romântica se tornaram portos seguros de expectativas amorosas para milhões de pessoas — principalmente mulheres — em todo o mundo. Mas não está na hora de olharmos com mais cuidado e atenção para certos modelos de machismo e racismo ainda perpetuados na sociedade e também presentes nas nossas tramas favoritas de amor?
Narrativas cinematográficas (quase sempre) sobre romances que acabam em finais-felizes-modernos, as famosas rom-coms (apelido carinhoso do gênero nos Estados Unidos) muitas vezes acabam por contribuir para estereótipos negativos associados a gênero e raça.
Como explorado pelo canal do YouTube “The Take” no vídeo “Rom Cons: Problematic Movie Romance Lessons” (ou “Comédias Românticas: Lições Problemáticas de Filmes de Romance”, em tradução livre), pelo “Buzzfeed” na matéria “35 coisas meio revoltantes que acontecem nas comédias românticas” e pelo episódio cinco do podcast PRIMAS, apresentado pelas comunicadoras Carla Lemos e Renata Correa, o universo de produções hollywoodianas relacionadas a romance traz uma série de noções um tanto quanto questionáveis.
O mundo das mulheres realmente gira ao redor de homens?
Tudo bem que nos desligamos de detalhes condizentes com a realidade para aproveitar filmes sem ter que pensar demais. Mas você já parou para perceber que em grande parte das comédias românticas mais queridas — como “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997), “Como Perder Um Homem Em 10 Dias” (2003) e “Nunca Fui Beijada” (1999), por exemplo — a vida da protagonista acaba se resumindo à busca por um relacionamento amoroso? E que, muitas vezes, o relacionamento desejado é com um homem que apresenta comportamentos preocupantes, mas considerados românticos e ideais?
Cena do filme ‘O Casamento do Meu Melhor Amigo’, de 1997
Se um cara não desiste da conquista após receber vários “nãos”, ele é considerado desrespeitoso na vida real, mas o achamos maravilhoso em “10 Coisas Que Eu Odeio Em Você” (1999), no personagem do ator Heath Ledger (1979 – 2008) no longa. Se um homem escala a sua janela durante a noite para te observar dormir (!), isso é considerado caso de polícia, mas se esse homem é Edward Cullen no romance vampiresco “Crepúsculo” (2008), ele é apenas um rapaz apaixonado.
No que diz respeito diretamente às mulheres, protagonistas brancas, magras e heterossexuais são parte majoritária do elenco de filmes de amor. Da mesma forma, essas personagens passam por diversas tentativas de se ajustar a desejos masculinos; suas personalidades usualmente transitam entre a dualidade de santa versus promíscua; e, não raro, há o comum abandono de metas profissionais dessas mulheres em prol do relacionamento amoroso.
Onde estão os galãs negros? E as protagonistas pretas?
Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Daniel Kaluuya e Idris Elba são apenas alguns dos nomes de uma lista imensa de atores negros que seriam incríveis e apaixonantes galãs de comédias românticas. Mas onde estão os filmes água-com-açúcar em que é um homem de pele escura o responsável por povoar devaneios lindos, amorosos e cheios de planos de futuro da (ou do) protagonista? Will Smith fez um trabalho memorável em “Hitch” (2005) e Lakeith Stanfield arrancou suspiros em “Alguém Especial” (2019), mas onde estão os outros atores negros estrelando blockbusters de amor em igual proporção a homens brancos?
Lakeith Stanfield em par romântico com Gina Rodriguez em ‘Alguém Especial’, de 2019
E, ok, já entendemos o potencial de mulheres pretas como dedicadas e divertidas melhores amigas, mas não passa mais batido que personagens cheias de características a serem exploradas em papéis principais — como Dionne Davenport de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) e Taylor McKessie de “High School Musical” (2006) — sejam constantemente cotadas apenas como coadjuvantes das tramas em que aparecem.
Na última década, foi possível perceber um movimento de mudança, ainda lenta, na indústria cinematográfica no que diz respeito à diversidade. Séries e filmes românticos de países anglo-saxões têm investido em enredos mais plurais e em equipes mais diversas.
De qualquer forma, nunca é demais criticar produções que reforcem estruturas de opressão social, e, principalmente, nunca é exagero se atentar mais para questões problemáticas em produtos de entretenimento que consumimos com tanto prazer.
Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.