Arte

Escritor registra rotina de sexo, panelaços e urubus na quarentena do centro de SP

13 • 07 • 2020 às 10:24
Atualizada em 13 • 07 • 2020 às 20:17
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Há em comum o fato de estarmos todos em casa, e pouco mais: em cada bairro de cada cidade as impressões, os sons e as visões da quarentena são diferentes – como são diferentes também os vizinhos que nos rodeiam enquanto nos isolamos para combater a disseminação do coronavírus. Vivendo em uma das maiores e mais agitadas cidades do planeta, o escritor Ronaldo Bressane decidiu registrar o que vê, ouve, percebe e sente no bairro República, no centro de São Paulo, onde vive. Vizinho a edifícios históricos como Copan, São Luiz e Louvre, Bressane pode reparar, entre drones e panelaços, um pouco mais nos hábitos de seus vizinhos e de seu bairro durante o isolamento – em crônica publicada na Folha de São Paulo.

O edifício Copan, no centro de São Paulo © Flickr

“O ar está violento: manhã linda, um vulto preto despenca bem em frente à janela”, escreve o autor, confundindo de cara com um suicida o que não passava de um urubu alçando voo em sua janela. Bressane também registra a exaustiva rotina de quem leciona ou estuda através de aplicativos de vídeochamada, e o estranhamento de passar a ter de conversar com os amigos por mensagens de texto ou de aúdio. A morte da poeta Olga Savary lhe salta ao coração como um símbolo enquanto seu texto era escrito: “Nesta temporada a morte vem mandando recados. Estamos sendo vividos pela narrativa do vírus, e sua língua é a do medo”, escreve.

A frente do edifício Louvre © Flickr

A disputa entre os que chamam o atual presidente de “mito” e os que o acusam de fascista é assistida pelo escritor também de sua janela, entre os imensos edifícios de centro de São Paulo – o panelaço contra Bolsonaro aconteceu diariamente, segundo Bressane, mas com horários irregulares. Enquanto isso, alguns faxinam os apartamentos, outros fazem Yoga, e um casal “transa apoiado nos batentes da janela; ora um, ora outro”. Mesmo em isolamento o centro de São Paulo e vivo e múltiplo, cheio de personagens e narrativas tão diversas quanto pode ser a imaginação de um autor. Para ler a crônica de Ronaldo Bressane no site da Folha de São Paulo, clique aqui.

O centro de São Paulo © Wikimedia Commons

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