Aos 72, Milton Barbosa está isolado em casa por conta da pandemia do coronavírus. O isolamento, no entanto, não diminuiu no ativista o empenho em defender as causas raciais pelas quais milita há décadas, inclusive durante a ditadura militar. A morte de George Floyd e os constantes casos de abuso policial no Brasil só intensificaram o volume de sua voz. Em entrevista ao “El Pais” ele concordou que a luta do povo negro hoje é a mesma do que a de 40 anos atrás e enxerga na união a força para o combate.
– Cara gente branca, aqui vão 65 atitudes simples para ajudar a vida da comunidade negra

O ativista Milton Barbosa, conhecido como Miltão da MNU.
“Na ditadura militar nós juntamos forças que se propunham a enfrentar o regime. É muito parecido ao momento de hoje. A extrema direita tenta tirar nossas conquistas, então os setores progressistas têm que se estruturar para ir para cima dela. O papel da extrema direita é fazer a população oprimida se reestruturar. Nós temos que derrotá-la, não tem outro caminho. Essas mobilizações de hoje estão apontando um caminho”, afirma.
Milton — conhecido como Miltão do MNU — é um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU) contra a Discriminação Racial, que surgiu durante o governo militar. Ele vê nas forças policiais um elemento do Estado responsável por um projeto de perseguição e morte à população negra. Ao jornal, ele contou já ter sido abordado pela polícia e ter ficado uma noite inteira na cadeia sem ter feito absolutamente nada.
– Fraude nas cotas, apropriação e Anitta: um debate sobre o que é ser negro no Brasil
Admirador de Marielle Franco, vereadora do Psol no Rio de Janeiro assassinada em 2018, ele acredita que sua trajetória inflamou o movimento de forma positiva. “Temos uma juventude incrível, com uma visão ampla, que está fazendo um bom trabalho. Essa é a garantia de que seremos vitoriosos”, diz.

Miltão discursa, há 42 anos, nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo.