Debate

Hashtag #MedBikini expõe o machismo e também a caretice de parte da medicina

28 • 07 • 2020 às 18:20 Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Você já ouviu falar da hashtag #MedBikini? A movimentação de mais de 1 milhão de mulheres da área da medicina é um protesto contra o machismo dentro da comunidade acadêmica e da área médica. Tudo começou após a publicação de um artigo chamado ‘Prevalência de conteúdo inapropriado nas redes sociais de jovens cirurgiões vasculares’, uma publicação da, pasmem, Universidade de Boston, que decidia analisar se determinados conteúdos eram apropriados ou não para serem postados nas redes sociais de médicos no geral.

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Para os pesquisadores da Universidade de Boston, aparecer de biquini numa praia é inapropriado para uma médica

O estudo tem metodologia questionável já de seu primeiro ponto: o que é um conteúdo “inapropriado” (em inglês, “unprofessional” ou “sem profissionalismo”)? Para a equipe de homens que comandaram a pesquisa, vale tudo: opiniões políticas, fotos bebendo, comentários religiosos, abordar temas como aborto e controle de armas. Porém, os itens que mais surpreenderam a comunidade médica foram “fotos de fantasias sensuais de Halloween” e… fotos de biquíni.

Pior ainda: o estudo, que analisou o perfil de redes sociais de mais de 400 cirurgiões médicos, não teve autorização dos estudados para chegar nessa conclusão absolutamente moralista. Ou seja, além da pesquisa ser duramente criticado por suas considerações pífias, os dados utilizados na pesquisa foram obtidas de maneira claramente anti-ética.

– Estudante de medicina faz depoimento poderoso denunciando o machismo em apostila de cursinho

Eles tiraram isso da cabeça, baseados em opinião pessoal. E, de cara, o grande problema desse estudo é a criação de critérios completamente fora do racional, algo inadmissível nas publicações científicas”, diz o médico mineiro Bruno de Lima Naves, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), ao blog da Lúcia Helena, no Viva bem da UOL.

“O curioso é que esses critérios, errados e cheios de moralismos, não excluem a sunga, mas os homens parecem não ter lido ou não deram bola. As mulheres, sim”, completa Lima Naves.

paper já foi retratado, ou seja, tirado do ar, pelo Journal of Vascular Surgery, mas a movimentação das mulheres médicas ainda continua levantando posts que debatem o machismo dentro do mundo da medicina.

No Brasil, apenas 35% das mulheres são médicas. Em 2018, um estudo do Instituto DataFolha que conversou com 826 médicos de São Paulo para eleger os melhores médicas do Brasil. Nenhum deles conseguiu apontar uma única mulher para participar do seleto grupo dos melhores profissionais de saúde.

A hashtag teve milhares de publicações em português e compartilhamos algumas manifestações das médicas brasileiras contra o machismo na medicina:

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Fotos: © Getty Images


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