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História da ditadura militar em SP inclui trilha na histórica vala de Perus

13 • 07 • 2020 às 19:46 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Da mesma forma que as sangrentas marcas da ditadura militar, que assolou o Brasil por 21 anos pesam sobre tantas famílias brasileiras, nas grandes cidades os vestígios do sombrio período compreendido entre 1964 e 1985 estão espalhados por diversos pontos, ora identificados com placas e monumentos, ora esquecidos na passagem do tempo – e em São Paulo não é diferente. Em alguns locais a conexão é mais evidente, como no antigo prédio do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops), próximo à Estação da Luz, hoje tornado em Memorial da Resistência, no local onde funcionou o centro de tortura Doi-Codi, hoje uma delegacia de polícia, ou o Portal de Pedra, na Av. Tiradentes, que remonta ao Presídio Tiradentes, onde diversas mulheres foram presas no período – incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff. Há um local de conexão menos evidente com os anos de chumbo, mas com uma história tão profunda a triste quanto as citadas: a trilha da Vala de Perus, em um cemitério no extremo norte de São Paulo, onde corpos e ossadas de pessoas assassinadas pela ditadura foram encontradas.

Ossadas descobertas na Vala de Perus © divulgação

Sob o nome oficial de Cemitério Dom Bosco mas conhecido como Cemitério de Perus (atualmente renomeado como Colina dos Mártires), o local fica próximo à divisa entre a parte norte da cidade de São Paulo e a cidade de Caieieras e foi criado em 1971, pelo então prefeito Paulo Maluf. A finalidade original, segundo consta, era de sepultar pessoas de origem humilde por conta da localização e preço, mas no cemitério e em seus entornos estima-se que cerca de 1500 sepultamentos clandestinos foram realizados – principalmente em duas valas não documentadas.

Trabalhadores retirando as ossadas da vala clandestina no local, em 1990 © Itamar Miranda/Arquivo

O caso foi revelado nos anos 1990 pelo repórter Caco Barcellos e as valas foram abertas por ordem da então prefeita Luiza Erundina para investigação, mas até hoje muitas ossadas seguem sem identificação. Recentemente, a aplicação da ciência forense vem procurando ajudar no processo de identificação de diversas ossadas do período, incluindo as descobertas na Vala de Perus.

As ossadas da Vala sendo separadas por profissionais © Comissão da Verdade/SP

No local, em 1993, foi inaugurado um monumento em homenagem aos desaparecidos, tornando-se referência para atos e homenagens relativos às mortes ocorridas na ditadura. “Aqui os ditadores tentaram esconder os desaparecidos políticos, as vítimas da fome, da violência do estado policial, dos esquadrões da morte e, sobretudo os direitos dos cidadãos pobres da cidade de São Paulo”, diz uma inscrição em um muro no local. Fica registrado que os crimes contra a liberdade serão sempre descobertos”, diz uma inscrição em um muro. A agência de turismo comunitária Queixadas normalmente oferece a Trilha Ditadura Nunca Mais, percorrendo o cemitério e apresentando a história da vala de Perus, mas pandemia suspendeu as atividades de visitação – como em todos os pontos históricos supracitados. Uma live mensal sobre o local, no entanto, vem sendo realizada pela agência.

© Wikimedia Commons

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