A sul-matogrossense Jéssica Arruda expôs nas redes sociais um manual para noivos desenvolvido pela Igreja Adventista que tem chocado muita gente pelo caráter machista do conteúdo. ‘Passadas de pano’ para a violência, a ideia de que a resolução de todos os problemas da vida conjugal está no sexo e outras visões altamente sexistas da vida conjugal estão no manual ‘Attitude – Um Guia para Noivos Cristãos’.
Jéssica noivou recentemente, mas não acatou as orientações machistas propostas em livro da IASD
Jéssica adquiriu o manual para encontrar algumas dicas afetivas para ela e seu recém noivo, Tulio Castro, buscando orientação da comunidade religiosa da qual participa, no caso, a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Entretanto, objetivo do guia não parecia ser explicar as complexidades de um noivado e subsequente casamento, mas sim um manual de como a mulher deve se submeter ao marido. Olha só algumas das frases presentes no livro:
“O homem fica frustrado e muitas vezes com raiva quando a mulher se nega a fazer sexo”
“Se você quer ter o seu marido emocionalmente conectado a você, faça sexo regularmente com ele” “
“O homem fica nervoso e muito irritado quando fica muitos dias sem fazer sexo”
“Quer ter um homem tranquilo, sereno e calmo ao seu lado? Você saberá o que fazer”
“O lar é uma extensão da personalidade da mulher. Converse mais sobre o lar e os filhos. Ajude-a nas atividades domésticas.”
Deu para entender um pouco o tom altamente sexista da parada, né? Revoltada, Juliana fez um vídeo em seu IGTV relatando um pouco da indignação com o livro e tentando atentar mulheres, em especial, cristãs, sobre a importância de uma relação afetiva que não se baseie no machismo.
A verdade é que existem coisas muito perigosas nas entrelinhas desse material e me preocupa a mera possibilidade das pessoas não perceberem a gravidade de algumas ideias que estão presentes ali. Ideias que legitimam abuso, assédio, violência e transferência de responsabilidade. Além disso, quero alertar mulheres que carregam sozinhas a responsabilidade das atividades domésticas e o cuidado dos filhos, que elas precisam ser valorizadas e respeitadas. pois desempenham um trabalho tão exaustivo e cansativo quanto o de qualquer pessoa com carteira assinada
“Entendo que se a igreja está preocupada com a felicidade mútua do casal deveria abordar o ideal divino estabelecido no Éden antes do pecado como o modelo a ser seguido e não reforçar os estereótipos de uma sociedade cheia de injustiça e manchada pelo pecado. Homem e mulher, feitos à imagem e semelhança de Deus, com igual importância e responsabilidade. É urgente a necessidade de mudar a abordagem e contribuir para uma sociedade menos machista, opressora, violenta e abusiva, mais próxima do que seria a vontade do Criador”, finalizou Juliana.
Jornalista formado na Escola de Jornalismo da Énois. Já publicou em veículos como The Guardian, UOL, The Intercept, VICE, Carta e hoje escreve aqui no Hypeness. No twitter, @porfavorparem.