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Secretário do Ministério da Saúde ignora 75 mil mortos e diz que Brasil é ‘exemplo no mundo’ no combate à covid-19

16 • 07 • 2020 às 15:23
Atualizada em 16 • 07 • 2020 às 16:00
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

O Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, afirmou que o Brasil é um exemplo mundial no combate ao novo coronavírus. Isso mesmo. O país com o segundo maior número de mortos e infectados é o exemplo mundial. Para Medeiros, o “número de recuperados” – indicador que segundo os especialistas não significa nada – indica que o Brasil está lidando bem com a pandemia.

Em entrevista coletiva, ele afirmou que se trata de ‘um grande exemplo. Abre aspas para o obscurantismo: “Discordo literalmente, frontalmente, que nosso país é um dos piores no mundo no combate da doença. Isso não é verdade por vários motivos. O primeiro grande motivo é que talvez somos o país com o maior número de recuperados da doença. Os Estados Unidos têm mais que o dobro do quantitativo dos nossos casos e temos muito mais recuperados”, afirmou.

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Arnaldo Correia de Medeiros afirmou que o Brasil é um exemplo no combate ao novo coronavírus

Ele defendeu ainda a gestão do General Eduardo Pazuello – aquele que afirmou que o Nordeste tem um clima parecido com o do hemisfério Norte – no Ministério: “Esse ministério tem feito sim, nos últimos meses, um esforço imenso para dar aos profissionais da ponta capacidade para o manejo clínico dos seus pacientes”. 

Ele está dizendo que o Brasil é um grande exemplo no combate à covid. O Vietnam teve 0 mortes e  possui uma média diária de duas infecções do novo coronavírus. A Nova Zelândia se declarou livre do vírus e voltou à normalidade na última semana. O Uruguai, aqui do lado, teve mil casos, com somente 12 casos confirmados por dia, mas o Brasil, com mais de 75 mil mortos e quase dois milhões de infectados, é o exemplo.

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Quando o nosso país alcançou o segundo lugar no número de recuperados da doença, Átila Iamarino foi enfático em seu Twitter. “O que o Brasil tem que outros países não têm pra chegar nessa colocação? Mais de MEIO MILHÃO de casos de COVID. É como se orgulhar de ter o maior número de baleados sobreviventes“, afirmou o virologista.

A reação do Ministério de Saúde veio após Gilmar Mendes, ministro do STF, acusar as Forças Armadas de serem coniventes e participantes do que ele considera um genocídio. “Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, afirmou Mendes em uma live. A reação dos verde-oliva no governo foi rápida: durante meses desaparecidos da imprensa, apareceram para defender o indefensável.

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Nesse vídeo, Felipe Neto, um dos maiores comunicadores digitais do Brasil, explicou ao New York Times o que está acontecendo no Brasil e porque nossa gestão de crise é sim um exemplo de gestão da pandemia. (No caso, um exemplo de como não fazê-la.):

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Fotos: Destaques: © Getty Images Foto 1: Reprodução/Twitter


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