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Ainda pouco conceituada, a chamada “cultura do cancelamento” parte do princípio de que atitudes ou posicionamentos desrespeitosos, preconceituosos ou incoerentes de marcas e de personalidades influentes devam ser punidos com perda de trabalhos, de credibilidade, de fãs e de dinheiro. Se, por um lado, o tal cancelamento colabora para gerar debates sobre questões como racismo, homofobia e machismo, o fenômeno online também deturpa e banaliza o que são e para que servem as lutas de movimentos sociais.
Em meio a discussões em redes sociais sobre “cancelar” alguém ou não, reivindicações por melhores condições de vida para minorias sociais acabam esvaziadas do propósito de promover mudanças estruturais concretas.
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Com boicotes efêmeros, argumentações superficiais para “lacrar” e unfollows em massa, a tal “cultura” passa a ser interpretada como instrumento de luta social, quando, na verdade, não combate a raiz de opressão alguma.
“Cultura do cancelamento é apenas um novo envelopamento de algo que já conhecemos e experienciamos durante décadas: o linchamento, o boicote, o ódio e a humilhação“, explica o estudo “Cultura do Cancelamento: o que é, do que se alimenta, como se reproduz”, divulgado em 2020 pela Mutato, agência de conteúdo de São Paulo.
“Esse linchamento acontece quando não há o poder maior — no caso, o poder do Estado — e aí a população se sente no direito de se tornar o júri, o juiz e o executor da sentença dessa pessoa [‘ré do julgamento’] “, diz Bruno Honório, analista de pesquisa e estratégia e responsável pelo estudo ao lado de Camilla Pereira de Oliveira.
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Durante participação na edição online da conferência YOUPIX Talks, realizada em julho de 2020, Bruno diz ainda: “Nossa sociedade é baseada na punição. ‘Eu preciso punir alguém por algum ato; se eu não punir, consequentemente eu não fiz minha parte enquanto ser social, enquanto pessoa’.”
Também convidada para o painel “Cultura do Cancelamento e Exposed”, a youtuber, podcaster e produtora Andreza Delgado levanta contrapontos importantes para o tema.
Uma das criadoras da PerifaCon, a Comic Con da favela, a baiana argumenta que, de outro ângulo, as raízes dos linchamentos físicos no Brasil se relacionam à violência contra pessoas à margem da sociedade, principalmente negras e pobres, enquanto o “cancelamento” da internet diz respeito à cobrança de responsabilidade por falas e atitudes problemáticas do ponto de vista dos ativismos sociais.
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“As pessoas que são canceladas, em maior parte, que não conseguem voltar a produzir ou não conseguem mais tantos contratos ou deixam de aparecer, são mulheres, mulheres negras, homens negros e homens negros LGBT, pessoas negras LGBT”, completa Bruno no debate.
“Os personagens oficiais que não conseguem retornar de um cancelamento, em maioria, são pessoas que também passam pelo processo de apagamento identitário, de apagamento social”, diz.
Ainda no mesmo painel do YOUPIX Talks, Bruno adiciona: “Quando alguém tem um comportamento racista [no contexto online da ‘cultura do cancelamento’], a gente o chama de ‘cancelado’, a gente não o chama de racista. Isso [o racismo] é um crime. Quando um cantor bate na própria esposa, a gente o chama de ‘cancelado’. Não, ele é um agressor, é um criminoso.”
Se lutas de ativistas forem lidas como meras tentativas de “cancelamento” — um termo genérico, sem credibilidade —, isso continuará a encorajar autores de condutas problemáticas a se colocarem c0mo vítimas de uma cobrança nociva, que não questiona, apenas pune.
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Enquanto os movimentos sociais vêm, há décadas, construindo bases para o questionamento sem censura do status quo da opressão, a “cultura do cancelamento” não propõe diálogos nem ferramentas que colaborem para a transformação das estruturas da sociedade, pelo contrário; ao tornar discussões sérias superficiais, promove a deslegitimação de pautas extremamente importantes para a reivindicação de direitos ainda negados a minorias políticas.
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