Após a autorização da Justiça para a realização do aborto de uma menina de 10 anos, que engravidou de um estupro cometido pelo próprio tio, a ativista de extrema direita Sara Giromini, também conhecida como Sara Winter, divulgou um vídeo no YouTube com informações sigilosas e que podem comprometer a segurança da vítima. Após denúncias, todas as redes sociais em que a extremista publicou o conteúdo – também está no Twitter e no Facebook – têm 24 para apagar os dados.
Uma das críticas à postura de Sara veio da professora da Universidade de Brasília e especialista em bioética Debora Diniz, que vem acompanhando atentamente o caso. “Por favor, não divulguem o vídeo. É uma menina, não uma disputa ideológica”, pediu a antropóloga.
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No vídeo, Sara defendeu que o aborto não fosse feito porque, segundo ela, uma pessoa com acesso a exames da menina afirmou que se trata de uma gestação de cinco meses, enquanto o tempo de gestação recomendada para o procedimento seja de três meses.

Sara Giromini expôs dados sigilosos de uma criança de 10 anos
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Além de divulgar o que seria o primeiro nome da criança vítima de violência sexual, Sara também criticou o médico que se dispôs a realizar o aborto e ainda forneceu o endereço do hospital onde ela estava internada.
Manifestação em hospital
Após a divulgação do vídeo, um grupo de fundamentalistas religiosos tentou invadir, neste domingo (16), o Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros (Cisam), no Recife (PE), para impedir o aborto legal da criança.
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A paciente foi transferida para Recife depois de ter seu direito negado no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), no estado do Espírito Santo, onde mora. Após a expulsão dos extremistas por um grupo de mulheres feministas, o procedimento foi realizado em segurança e a criança passa bem.
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É lei!
No Brasil, por lei, o aborto descriminalizado em casos de gravidez decorrente por estupro e em casos onde há risco de vida para a mãe ou anencefalia do feto. No caso da vítima de 10 anos, os dois primeiros critérios se encaixam em sua situação, mas o procedimento precisou ser levado à Justiça para que fosse realizado.
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A Pesquisa Nacional de Aborto, realizada em 2015 pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), mostrou que uma em cada cinco mulheres entre 18 e 39 anos já tinha realizado pelo menos um aborto até os 40 anos, totalizando de quase 500 mil intervenções. Os números podem ser maiores, já que a pesquisa não abrangeu adolescentes, mulheres em áreas rurais e após os 49 anos.
Ao longo do dia, o movimento de extremistas foi substituído por feministas, que se reuniram na porta do hospital para prestar apoio à vítima e garantir que o procedimento pudesse ocorrer em segurança.
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Entenda o caso:
A gravidez foi revelada no dia 7 de agosto, quando a menina foi levada ao hospital, na cidade de São Mateus, se queixando de dores abdominais. A menina relatou que começou a ser estuprada pelo próprio tio desde que tinha seis anos. Ele tem 33 anos e foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça, mas está foragido.
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No sábado, a menina ficou internada no Hospital das Clínicas, em Vitória. Uma equipe do hospital se recusou a fazer o aborto, alegando que “a idade gestacional não está amparada na legislação vigente”.
Na sexta-feira, o juiz Antônio Moreira Fernandes atendeu a um pedido do Ministério Público, favorável à interrupção da gravidez. Na decisão, está escrito “que é legítimo e legal o aborto acima de 20-22 semanas nos casos de gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia fetal”.
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Na decisão que determinou interromper a gravidez, o juiz concluiu que “a vontade da criança é soberana ainda que se trate de incapaz, tendo a mesma declarado que não deseja dar seguimento à gravidez fruto de ato de extrema violência que sofreu”.
Depoimentos de assistentes sociais que ouviram a menina comprovaram o desejo da criança de interromper a gravidez. Os profissionais afirmaram que, só de tocar no assunto, a vítima entra em desespero, chorava, gritava e repetia a todo instante que não queria continuar com a gestação.