Inspiração

Kathrine Switzer, a maratonista que foi agredida por ser a primeira mulher a correr a Maratona de Boston

11 • 09 • 2020 às 17:30
Atualizada em 11 • 09 • 2020 às 17:35
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A história da atleta e comentarista de TV alemã Kathrine Switzer é a história de uma de tantas mulheres que desafiaram as amarras do machismo e da desigualdade de gênero ao longo da história a fim de fazer, nas mais variadas frentes, desse um mundo mais justo e igualitário: foi ela a primeira mulher a correr oficialmente, entre homens, a tradicional Maratona de Boston, em 1967. É ela a protagonista da emblemática fotografia que a mostra sendo agredida por um dos diretores da corrida pelo simples fato dela ser mulher, e de ter ousado participar da competição.

A mais emblemática das fotos do ocorrido – parte de uma sequência de fotos da agressão

Por mais de 70 anos antes do gesto de Switzer, a Maratona de Boston foi uma competição exclusivamente masculina. Para conseguir participar, a maratonista se inscreveu utilizando suas iniciais como nome: K. V. Switzer, forma de grifar seu nome que ela de fato costumava utilizar. “A ideia de uma mulher disputer uma corrida de longa distância sempre foi questionada, como se uma atividade árdua significasse que a mulher ganharia pernas grossas, um bigode e seu útero fosse cair”, comenta Switzer, que propositadamente usou batom e brincos na ocasião, a fim de deixar ainda mais claro o significado de seu gesto, desafiando as mais absurdas noções de gênero.

Kathy Switzer no início da corrida

O desafio não se daria sem custo – e foi no meio da corrida que Jock Semple, um dos diretores da Maratona, percebeu a presença de Switzer e decidiu que a tiraria da prova à força. “Um homem imenso, mostrando os dentes com raiva pra mim, antes que eu pudesse reagir me pegou pelos ombros e me empurrou, gritando ‘Saia da minha corrida e me dê seu número’”, ela recorda. Foi o namorado da treinadora de Switzer que impediu que a agressão e a expulsão tivessem sequência e, apesar do impacto emocional, a maratonista decidiu que tinha de seguir. “Se eu desistisse, todos diriam que era um gesto publicitário – seria um retrocesso para o esporte feminino, pra mim. Se eu desistisse, Jock Semple e todos como ele iriam vencer. Meu medo e humilhação se transformaram em fúria”.

Kathrine Switzer terminou a Maratona de Boston de 1967 em 4 horas e 20 minutos, e seu feito se tornaria parte da história do esporte feminino, como um símbolo cultural de emancipação e coragem. Inicialmente a União Atlética Amadora baniu as mulheres de competirem contra homens por conta de sua participação, mas em 1972 a Maratona de Boston passou pela primeira vez a realizar uma versão feminina da corrida. Em 1974, Switzer viria a vencer a Maratona de Nova York, para ser eleita a “Corredora da Década” pela revista Runner’s World Magazine em seguida. Quando completou 70 anos de idade e 50 anos de seu feito, ela correu mais uma vez a Maratona de Boston, vestindo o mesmo número de sua participação: 261. Nesse ano, a Associação Atlética de Boston decidiu que o número não seria mais oferecido para nenhuma outra atleta, imortalizando assim o feito de Switzer em 1967.

Switzer atualmente, carregando seu número na histórica corrida

 

Publicidade

Canais Especiais Hypeness