Debate

Na Indonésia, punição por não usar máscara é cavar túmulos para vítimas de Covid-19

21 • 09 • 2020 às 19:52 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Não usar máscaras é crime na Indonésia, e uma punição aplicada no país vem causando debate – e aplausos – por toda internet. Com a pandemia ainda castigando a maior parte do planeta, oito pessoas que se recusaram no arquipélago asiático a usar as máscaras que ajudam a impedir a transmissão do novo coronavírus foram condenados à prestação de um tipo singular de serviço comunitário: cavar covas para vítimas fatais da Covid-19. Quem não usou máscaras teve de trabalhar como coveiro para o velório de pessoas que morreram por conta da doença.

Trabalhadores cavando em cemitério em Jacarta

O caso se deu em Gresik, uma regência da província de Java Oriental, e a punição foi aplicada em um cemitério público na vila de Ngabetan. Segundo as autoridades locais, a punição não obrigou os condenados a manusearem os cadáveres, participarem dos velórios propriamente nem a se submeterem a nada que pudesse violar protocolos sanitários. “Só temos três coveiros disponíveis no momento, então pensamos que poderíamos colocar essas pessoas para trabalharem com eles”, disse um policial local. “Esperamos que isso possa dissuadir outras pessoas que pretendem violar as regras”.

Ainda que as opiniões sobre a punição sejam divididas, enquanto alguns creem se tratar de castigo excessivamente severo a maioria parece enxergar como justa a conexão quase direta entre o crime e sua consequência. Quem não usa máscara é obrigado, portanto, a lidar diretamente com o efeito de tal recusa. Muitos comentários celebrando a decisão das autoridades da Indonésia vieram justamente dos EUA, país que tragicamente lidera as piores estatísticas sobre a pandemia – e que insististe, através de suas autoridades, a tentar reduzir o impacto do novo coronavírus e a reabrir as atividades do país ao custo de mais de 7 milhões de casos e mais de 204 mil mortes só no país.

Seja excessiva ou não a punição imposta a quem se recusa a usar máscaras na Indonésia, é impossível não comparar o quadro no arquipélago com a situação brasileira – onde, apesar da pandemia seguir assolando a população, tornou-se comum em cidades como o Rio de Janeiro ver pessoas sem máscara e sem seguir protocolos de segurança nas ruas. Enquanto a Indonésia, país com mais de 267 milhões de habitantes, ocupa a 23ª colocação no quadro geral de casos da Covid-19, com cerca de 248 mil casos no total e menos de 10 mil mortes, o Brasil, com seus cerca de 210 milhões de habitantes, ocupa a terceira colocação no total de casos – com mais de 4,5 milhões de contaminados – e a segunda em número de mortes, com mais de 136 mil brasileiros mortos.

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