O fluminense Rômulo Marques foi demitido por conta da pandemia de coronavírus e, para voltar a buscar trabalho, decidiu cortar o black power. Preocupado com o racismo que poderia vir a sofrer em processos seletivos, o ex-gerente de uma ótica resolveu cortar o cabelo para não correr o risco de enfrentar preconceito ao procurar uma nova vaga.
Em desabafo no próprio perfil do Facebook, o morador de Nilópolis, na Baixada Fluminense, divide os motivos e o contexto da decisão. “Galera, foi muito bom enquanto durou. Foi bom mesmo! E estou muito ansioso para que futuramente possa usar meu black novamente”, escreve Rômulo.
“Eu sei que não é impossível de conseguir outro trampo, mas é bem mais difícil nessa condição [durante a pandemia]. Com o cabelo curto, é menos um empecilho, e eu não posso perder uma oportunidade sequer, mesmo que tenha de abrir mão de quem eu sou de verdade”.
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Galera, foi muito bom enquanto durou. Foi bom mesmo! E estou muito ansioso para que futuramente possa usar meu black…
Publicado por Rômulo Marques em Quinta-feira, 15 de outubro de 2020
“Perdi meu emprego há alguns meses. Nesse trampo, o meu ex-patrão nunca se importou com o meu cabelo grande. Eu ficava à vontade. Devido à pandemia, entrei na lista dos que foram dispensados”, continua Rômulo.
“Tentei começar meu próprio negócio rentável, mas tive que adiar por falta de recurso suficiente. Agora, a rotina de espalhar currículos voltou, e eu confesso que fui fraco. Tenho medo de ser rejeitado no mercado de trabalho por causa do black.”
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Nos comentários da publicação, amigos e desconhecidos escreveram mensagem de apoio e identificação com Rômulo. “Eu nem sei como expressar o sentimento de decepção que tô sentindo agora, não de você, e sim de todo esse sistema racista que nos obriga todos os dias a resistir e passar por isso”, escreve um dos usuários da rede social.
“Foi o que eu falei assim que vi, é revoltante. Segundo amigo na mesma semana que tem essa atitude por necessidade”, diz outra usuária em resposta à publicação.
De acordo com a Pnad Covid do IBGE, o Brasil atingiu 14 milhões de desempregados no final de setembro, o maior número desde o início da pesquisa semanal, em maio de 2020.