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Caso Robinho: jornalistas da Globo tem número vazados e sofrem ataques

19 • 10 • 2020 às 11:23 Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Após participação intensa no movimento que impediu a volta do estuprador condenado em primeira instância Robinho ao Santos Futebol Clube, ao menos quatro comunicadores tiveram seus números pessoais vazados e foram ameaçados por torcedores santistas. Carlos Cereto, Rodrigo Capelo e Ana Thaís Matos, jornalistas da Globo e Marília Ruiz, da Band e do UOL, foram as vítimas dos ataques.

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Ana Thais, Marília Ruiz, Carlos Cereto e Rodrigo Capelo: jornalistas sofrem ameaças de morte em meios digitais após se posicionarem contra a volta de Robinho ao Santos

Nenhum deles sequer assinou alguma das importantes reportagens que mostraram o conteúdo dos diálogos de Robinho com amigos que incriminam o atacante. A revelação dessas gravações confirmam ausência de consentimento na relação e foram decisivas para a transformação da opinião pública. Os jornalistas supracitados apenas utilizaram seus espaços nos blogs, na televisão e no Twitter para se manifestar contra a volta do atacante.

As conversas de Robinho com outros envolvidos no caso galvanizaram a opinião pública e pressionaram os patrocinadores a se afastar do clube. Após a Orthobom rescindir o contrato, Philco, Umbro, Brahma, Kodilar, Kicaldo, Tekbond, Foxlux, Casa de Apostas e Oceano B2B pressionaram o Santos para o contrato ser suspenso. Na sexta-feira, o time anunciou rescisão amigável com o atacante.

Foi graças ao jornalismo da Globo – que teve acesso às conversas do caso – e graças à manifestação de opinião desses comunicadores que algo foi feito. E justamente por isso, os quatro denunciaram que receberam ameaças de morte e ataques em massa através de meios digitais:

Marília Ruiz não se manifestou pelo Twitter. Ela utilizou o seu blog no UOL para avisar que registrou queixa criminal contra os ataques que recebeu em mensageiros privados. “Registrei queixa contra todos aqueles que me ameaçaram, intimidaram e ultrapassaram os limites da lei.Sugiro o mesmo para todas as vítimas de ataques virtuais e não virtuais.Aproveito e dou o serviço: aqui em São Paulo procurem a DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) chefiada pela delegada Daniela Branco – subordinada a DHPP (Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa), dirigida pelo delegado Fábio Pinheiro Lopes”, escreveu a jornalista.

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Em supostos áudios vazados do atleta Robinho, ele toma a narrativa de que a Rede Globo está conspirando contra ele. Ele se comparar ao Presidente Jair Bolsonaro, coloca que a Globo é uma “emissora do demônio”, colocando o jornalismo como seu principal inimigo. Ao invés de se defender sobre as acusações ou explicar o que fez, Robinho – que é condenado por estupro em primeira instância na Justiça Italiana – prefere atacar o mensageiro.

O jogador se compara ao atual Presidente da República e se vitimiza, como um alvo da mídia, mas é condenado por estupro em primeira instância pela Justiça Italiana

“A gente sabe como a TV Globo é uma emissora do demônio. É só você ver as novelas, as programações. Então eu estou em paz. Deus vai dar a vitória. Que se cumpra o propósito de Deus na minha vida. Meter gol neles, ‘tamo junto’. Vou meter uma camisa quando fizer gol: ‘Globo lixo, Bolsonaro tem razão’”, afirmou Robinho, condenado por estupro em primeira instância na Itália, em áudios vazados.

No fim das contas, fica claro que a postura política adotada por Robinho e a criação de uma narrativa anti-jornalística executada pelo jogador colabora para os ataques sofridos pelos comunicadores da Globo e transforma algo que não deveria ser político em uma narrativa de polarização, como se houvesse motivos para defender a contratação de Robinho, jogador condenado por estupro em primeira instância na Itália.

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Fotos: Destaques: Montagem/Reprodução/SporTV/Band Foto 1: Montagem/Reprodução/SporTV/Band  Foto 2: © Getty Images


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