Atleta da NBA aposentado e psicólogo de formação, John Amaechi chamou atenção internacional em agosto deste ano ao explicar, de um jeito bem paciente e didático, o que é privilégio branco em um vídeo da “BBC Bitesize“, plataforma do veículo britânico voltada para o reforço dos estudos de crianças e adolescentes.
Primeiro jogador da liga de basquete norte-americana a se assumir gay publicamente, John também é voz importante para movimentos contra o racismo, como o Black Lives Matter, e consegue sintetizar bem o que as manifestações antirracistas dentro do esporte representam na conjuntura atual.
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“Eu tenho 50 anos de idade. Vou morrer com o racismo desenfreado. Isso não é ridículo?”, diz o ex-jogador de times como Cleveland Cavaliers (1995-1996), Orlando Magic (1999-2001) e Utah Jazz (2001-2003) em entrevista ao “Guardian“.
Apesar da nítida impaciência e revolta com a situação estrutural que assassina e coloca pessoas negras à margem de sociedades em diversos países do mundo, John Amaechi recebeu muitos elogios e agradecimentos pela explicação descomplicada e acessível que direcionou a quem deseja aprender.
“Privilégio branco não significa que você não trabalhou duro ou que não merece o sucesso que teve”, ele diz no vídeo. “Isso não significa que sua vida não é difícil ou que você nunca sofreu. Significa simplesmente que a cor da sua pele não foi a causa de suas dificuldades ou sofrimentos.”
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Sobre atitudes antirracistas de diversos astros — e até de times inteiros — da NBA, John demonstra admiração, mas também tem questões a levantar. “Ajoelhar é apenas um símbolo que obriga a pensar. Os símbolos são úteis, a ação é melhor”, diz. “Abrir arenas de basquete como centros de votação, por exemplo, é uma coisa brilhante”.
Mas, como uma pessoa que esteve por dentro dos bastidores do basquete, ele diz que ações radicais contra o racismo sempre fizeram parte de sua história, e que o esporte norte-americano, em geral, talvez seja mais politicamente ativo do que as pessoas supõem.
Sobre o período em que John jogou pelo Orlando Magic, em 1998, ele diz: “Convidamos as pessoas ao vestiário para conversar conosco; tivemos políticos, ativistas, Al Sharpton [ativista negro pelos direitos civis]”. Segundo ele, os jogadores administravam clubes de leitura, pagavam refeições escolares, acampamentos esportivos e retribuíam às suas comunidades.
Ele cita, ainda na entrevista ao “Guardian”, o trabalho do ex-jogador Dikembe Mutombo, um embaixador humanitário e global da NBA, bem como Adonal Foyle, que agora também é um psicólogo e realiza um “trabalho brilhante” em sua comunidade na Bay Area, em São Francisco, na Califórnia.

John Amaechi como membro do time Utah Jazz, em que jogou de 2001 a 2003
John credita a mãe por todo o sucesso que ele conseguiu alcançar. Segundo ela: “As pessoas mais improváveis nas circunstâncias mais improváveis podem ser extraordinárias. Não aquele absurdo de que ‘Se você acreditar, isso se tornará realidade’ — isso é besteira — mas se você definir um plano, estiver disposto a trabalhar, suportar a mundanidade extrema e realmente abraçar algum desconforto, acho que você pode fazer coisas notáveis.”
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Mesmo depois de aposentado, John Amaechi voltou às manchetes por ter sido o primeiro jogador da NBA a assumir a própria homossexualidade ao grande público. Por meio do livro de memórias “Man in the Middle“, lançado em 2007 como um best-seller do New York Times, o atleta revelou que, durante a carreira no basquete, amigos, jornalistas, membros da equipe técnica e colegas de time sabiam de sua orientação sexual, pelos menos aqueles que “não eram idiotas”.
Segundo ele: “As pessoas precisam saber que negros podem ser gays. E isso não torna o outro menor.”