Ciência

O que é a Pedra de Roseta, o mais importante documento arqueológico sobre o Egito Antigo?

23 • 10 • 2020 às 18:17 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Com pouco mais de 1,12 metro de altura, cerca de 75 centímetros de largura e 28,4 centímetros de espessura como fragmento de uma estela ou pedra erguida em granodiorito, a Pedra de Roseta em princípio pode parecer só mais um dos tantos tesouros do antigo Egito descobertos na modernidade. É, em verdade, um dos mais importantes documentos da história da arqueologia, como a chave para o entendimentos do hieróglifos do antigo Egito, e o ponto de fundação do estudo da cultura egípcia conhecido como egiptologia – em resumo, é possivelmente a mais famosa pedra do mundo, por reunir um mesmo texto em sua face escrito na forma hieroglífica do Egito antigo, em demótico (variante escrita do Egito tardio) e grego antigo.

A Pedra de Roseta 

Originaria da região de Saís, no delta do Rio Nilo, a pedra data do ano de 196 a.C., e contém um dos ditos Decretos Ptolomaicos, espécie de textos legislativo decretado por sacerdotes em louvor ao jovem faraó Ptolomeu V Epifânio. Por séculos a Pedra de Roseta foi exposta como monumento público mas, removida, ela chegou a ser utilizada como material de construção de um forte – justmanete na cidade de Roseta, a leste de Alexandria. Somente em 1799 ela foi redescoberta, por um soldade durante uma expedição napoleônica à região. A descoberta dessa que é a primeira inscrição plurilíngue a incluir a antiga língua egípcia grifada em hieróglifos dos tempos modernos, a Pedra de Roseta se tornou o ponto de partida da tradução precisa dos hieróglifos – a partir da leitura do texto em grego antigo contido na pedra.

 

Uma vez estabelecido que a pedra continha três versões do mesmo texto, a decifração completa aconteceu em 1822, anunciada pelo egiptólogo francês Jean-François Champollion. Desde 1802 que a Pedra de Roseta encontra-se em exibição no Museu Britânico, em Londres, como o objeto mais visitado e de maior importância de todo o acervo do principal museu da Inglaterra e o terceiro mais visitado do mundo.

Acima, a parte lateral da pedra; abaixo, a “face” da pedra em destaque

Desde 2003 que o governo egípcio exige a repatriação da pedra, e a disputa sobre a capacidade do Egito de conservar tal documento e o evidente direito essencial da nação sobre a Pedra segue em impasse. O que não se tem dúvida é da importância da Pedra de Roseta, que se tornou uma espécie de sinônimo de algo que se impõe como um marco fundador ou revelador de determinada ciência, da decodificação de uma mensagem ou mesmo do aprendizado de um tema em modo geral.

Acima, trecho em egípcio antigo (hieróglifo)…

…e o mesmo trecho em demótico

Excerto do Decreto de Mênfis

Os sumos sacerdotes e profetas […] e todos os outros sacerdotes que vieram de todos os santuários do país a Mênfis ao encontro do rei, […] declararam: […] o rei Ptolemeu […] tem sido um benfeitor para com os templos e para aqueles que aí habitam, como também para todos aqueles que são seus súbditos; […] se mostrou benfeitor e consagrou aos santuários receitas em dinheiro e em trigo e tem suportado muitos gastos para conduzir o Egipto à tranquilidade e para assegurar o culto; e que tem sido generoso utilizando todas as suas forças; e que, das receitas e impostos cobrados no Egipto, tem suprimido alguns e aligeirado outros para que o povo e todos pudessem prosperar sob o seu reinado; e que tem suprimido as inúmeras contribuições dos habitantes do Egipto e do resto do seu reino destinadas ao rei, por mais consideráveis que fossem […] e que depois de inquirir tem renovado os mais honoráveis dos templos, sob o seu reinado, como é devido; em recompensa por isto, os deuses têm-lhe dado saúde, vitória e poder e todas as outras coisas, e a coroa deve permanecer propriedade sua e dos seus filhos, para sempre. COM SORTE PROPÍCIA, foi decidido pelos sacerdotes de todos os santuários do país que devem ser enormemente aumentadas as honras rendidas ao rei Ptolemeu, o Imortal, o amado de Ptah, o deus Epifânio Eucaristo […]; que se erga em cada santuário, no lugar mais proeminente, uma imagem do rei imortal, Ptolemeu, deus Epifânio Eucaristo, imagem que levará o nome de Ptolemeu, defensor do Egipto, junto da qual deverá ficar o deus principal do santuário, entregando-lhe a arma da vitória, segundo o modo egípcio […]

 

 

 

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