Em Salvador, um dos mais emblemáticos sobrenomes da história da luta contra a ditadura militar brasileira voltou a fazer parte do cenário político da cidade: aos 44 anos, Maria Marighella foi eleita vereadora na capital baiana. Além de atriz, Maria é também neta do político Carlos Marighella, um dos mais emblemáticos e controversos guerrilheiros contra o regime nos anos 1960 no Brasil. Eleita com 4.837 votos, Maria Marighella assumiu uma das 43 cadeiras da Câmara Municipal de Salvador pelo Partido dos Trabalhadores.
Essa foi a primeira eleição em que Maria concorreu, mas a neta de Marighella lembra que inevitavelmente a política fez parte de sua vida desde o berço – a novidade, no caso, é sua participação no aspecto partidário e institucional da política. As bandeiras levantadas por Maria durante a campanha foram de defesa das políticas públicas, principalmente voltadas para causas feministas, como a violência contra a mulher, os direitos sexuais e reprodutivos, e as necessidades e direitos das mães em Salvador. A luta contra o que chama de “sucateamento da cultura” é também central para seu mandato.
Outra pauta importante para Maria, que se destaca em especial no cenário da cidade de maior população negra no mundo fora da África, é a questão do racismo estrutural. “Salvador tem uma dívida com sua história e não consegue enfrentar o debate de justiça social. O racismo estrutural está no centro da desigualdade do país, Salvador é uma cidade desigual, com injustiças muito severas”, disse Maria, em entrevista recente à rádio A Tarde FM.
A eleição de Maria acontece no momento em que o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura contando a história de seu avô, finalmente ganha uma nova da de estreia. Depois de enfrentar resistências e protestos por levar às telas a vida de um dos mais influentes e polêmicos líderes guerrilheiros da resistência contra os regimes militares autoritários na América Latina – e de ter de alterar seu cronograma por conta da pandemia – foi anunciado um novo trailer completo da obra, assim como a data de 14 de abril de 2021 para sua estreia.
Estrelado por Seu Jorge, o filme é baseado na biografia de mesmo nome e escrita por Mario Magalhães, e relata os últimos anos da vida de Carlos Marighella, na clandestinidade e na luta armada. Visto como herói por muitos, como terrorista por outros, Marighella foi eleito deputado federal pelo PCB em 1946, anos antes de aderir à luta armada e se tornar uma de suas principais lideranças. Em novembro de 1969, em uma emboscada realizada por agentes do DOPS, Mariguella foi assassinado em São Paulo.
Escritor, jornalista e músico, doutorando em literatura pela PUC-Rio, publica artigos, ensaios e reportagens. É autor dos livros Tudo Que Não é Cavalo, Boca Aberta, Só o Sol Sabe Sair de Cena e Dólar e outros amores.