Debate

Amazônia teve campo de concentração com famílias japonesas na 2ª Guerra

26 • 11 • 2020 às 10:48
Atualizada em 27 • 11 • 2020 às 10:49
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Engana-se quem pensa que os horrores da Segunda Guerra Mundial não se deram em solo brasileiro: a partir do momento em que o Brasil se posicionou com os aliados contra os países do chamado ‘eixo‘ no conflito, as populações de imigrantes japoneses, italianos e alemães, assim como seus descendentes, passaram a ser perseguidas por aqui.

E não somente: 11 campos de concentração foram montados para prender tais imigrantes e assim impedir que agissem como espiões ou agentes infiltrados para o eixo.

Um dos casarões do antigo campo de Tomé-Açu © Livro “Por Terra, Céu e Mar”

O episódio é semelhante com o que aconteceu nos EUA, onde 120 mil pessoas de origem japonesa foram movidas para campos de concentração por conta da Segunda Guerra dentro do país. Por aqui, a população nipo-brasileira foi especialmente movida para Tomé-Açu, um dos onze campos construídos no Brasil, localizado a cerca de 200 km de Belém do Pará, no coração da região amazônica. A história foi levantada originalmente em matéria da BBC Brasil.

Estabelecido em 1942, ano em que o Brasil entrou no conflito, o campo de Tomé-Açu recebeu a comunidade japonesa que era até então estabelecida na região por demandas profissionais agrícolas. As pressões advindas das relações externas brasileiras levaram o governo brasileiro a suspender os direitos aos bens de tais cidadãos e isola-los no campo sob regras severas, sob toque de recolher e racionamento de energia, censura às correspondências e proibição irrestrita de qualquer reunião ou agrupamento.

Imagens dos prisioneiros no campo © Biblioteca Pública Arthur Vianna

Estima-se que somente em Tomé-Açu cerca de 480 família japonesas, 32 famílias alemãs e algumas famílias italianas tenham sido detidas ao longo dos seus três anos de funcionamento. O fato da maior parte das pessoas aprisionadas não ter sequer grandes conhecimentos sobre o confronto mundial que então ocorria ou mesmo sobre os rumos políticos de seus países de origem não foi considerado relevante o suficiente para impedir que o governo brasileiro, assim como se deu em tantos outros países, os aprisionasse.

O campo era como uma cidade e, ainda que de forma alguma possa ser comparado aos horrores cometidos nos campos alemães, a rotina no local era inclemente, com trabalho, censura, isolamento e contenção. O fim da guerra, em 1945, decretou também a extinção oficial dos campos, ainda que as marcas de tal terrível experiência tenham sobrevivido diretamente nos prisioneiros libertados – que por décadas enfrentaram a pobreza, a estigmatização, o preconceito e a dificuldade para reestabelecerem suas vidas.

A entrada de Tomé-Açu © Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Espantosamente esses não foram os únicos campos de concentração estabelecidos no Brasil: mais de uma vez o governo brasileiro, nos anos de 1915 e 1932, aprisionou em campos similares populações cearenses vítimas das terríveis secas que assolaram então a região, a fim de impedir a migração em massa para a capital.

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© fotos: créditos


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