Debate

Apagão no Amapá: rodízio prioriza ricos e periferia convive com escuridão e violência policial

09 • 11 • 2020 às 17:58 Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Desde a segunda-feira (2) da semana passada, o estado do Amapá convive com um apagão que tem causado calamidade pública. A destruição de três geradores de energia causou falta de abastecimento de eletricidade, consequente falta de água potável e posterior falta de alimentos na região por problemas de refrigeração.

– Amapá convive com falta de água e alimentos estragados em 4º dia de apagão

População se revolta com falta de abastecimento de água, elevação dos preços de alimentos e rodízio seletivo de energia na periferia de Macapá

Nesse fim de semana, foi reestabelecida a capacidade de 76% de geração de energia no Estado, mas a população ainda convive com um rodízio que tem beneficiado as regiões mais ricas da cidade, onde moram boa parte dos políticos locais como o governador Waldez Goés (PDT) e o irmão do presidente do Senado Davi Alcolumbre, Josiel Alcolumbre (DEM), candidato à prefeitura. Com horário certo para energia nas regiões mais ricas, os bairros mais pobres tem sofrido com rodízio incerto e insegurança alimentar.

– Mulher negra que tomou soco e recebeu xingamento racista de PM no Amapá pagou fiança para ser solta

Na noite de sexta e sábado foram registradas manifestações com forte repressão policial na periferia da capital, demandando um rodízio adequado e abastecimento de água por caminhão pipa. Macapá fica à beira da foz do Rio Amazonas e seus moradores não têm acesso à água potável.

O pessoal já estava com muita raiva, porque o governo daqui não fez nada pela gente, não deu nenhuma assistência. Aí, com anúncio dessa previsão de 10 dias, todo mundo entrou em desespero”, conta Benedita Alves, professora de sociologia e moradora da COHAB de Sucena, ao Brasil de Fato.

“O povo que mora na periferia é o que está sofrendo mais, porque não tem poço artesiano, que não tem gerador, que mora em casa popular. É natural, depois de 4 dias, que o povo se revolte assim”, afirma Moroni Pascale, morador de Macapá e militante do Movimento dos Antigidos por Barragens, ao Brasil de Fato.

Pescadores da região tem tido um problema ainda maior, pois os alimentos n ão tem onde ser armazenados e centenas de quilos de peixe, que poderiam servir para alimentação da população, tiveram de ser jogados fora. Não há gelo para conservação de alimentos, não há água para higiene e cozinha e a periferia sofre mais do que a classe mais abastada. Além disso, hospitais estão sofrendo com alta nos casos de covid-19 e estão operando através de geradores.

– Coronavírus: Yanomamis querem expulsão de mineradoras ilegais para frear avanço da pandemia

A Companhia de Eletricidade do Amapá afirma que as dificuldades de estabelecimento de rodízio e as formas de distribuição de energia estão priorizando hospitais e, portanto, a falta de energia na periferia não é seletiva.

“Está tendo uma atenção especial no Estado. O que pode ser feito está sendo feito. O consumidor tem que ficar tranquilo com relação a isso. E o consumidor tem que ter responsabilidade no uso da energia. Não há privilégio de áreas. Toda área considerada prioritária tem explicação. E explicação está relacionada a serviços essenciais. Não há atendimento especial a área nenhuma”, afirma o presidente da CEA ao Estadão.

Veja imagens da repressão policial no estado:

Publicidade

Fotos: Rudja Santos/Amazônia Real/Fotos Públicas


Canais Especiais Hypeness