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Nesta sexta-feira (6), o candidato à presidência da república dos EUA, Donald J. Trump, sofreu algumas derrotas inesperadas em estados chave para a definição do novo chefe de estado norte-americano. Depois de tomar uma virada em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, algo histórico aconteceu: pela primeira vez desde 1992 o estado da Georgia, no sul dos Estados Unidos, teve um democrata como ganhador das eleições no estado.
A diferença de menos de 2 mil votos entre Joseph R. Biden e Donald Trump é um resultado histórico e, segundo a própria organização da eleição, haverá uma recontagem das cédulas. Mas a história por trás desse resultado emblemático passa pela luta de diversos indivíduos por uma democracia mais participativa nos EUA, que tem um problema crônico com comparecimento às urnas.
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Stacey Abrams e sua organização ‘Fair Fight’ registrou mais de 500 mil pessoas para votar em 2020
Um dos nomes que acabou se sobressaindo na vitória de Biden em Georgia foi o de Stacey Abrams. Ativista negra e membra do congresso estadual da Geórgia entre 2011 e 2017, ela abandonou a corrida para o Senado e decidiu concentrar seu foco em energizar a população da região metropolitana de Atlanta para as eleições que poderiam retirar Donald Trump do poder.
Trump é um candidato racista. Quando questionado no primeiro debate, em outubro, se iria condenar seus apoiadores supremacistas brancos, o presidente afirmou que pediria para que eles “aguardassem” e em nenhum momento os criticou. Em 2017, Trump também não condenou as marchas da Ku Klux Klan e de nazistas em Charlottesville.
Contagem de votos na Geórgia demorou mais que o normal por conta dos votos por correio; Governo estadual confirmou que haverá recontagem
A Geórgia foi um dos estados da União que lutou do lado do sul na Guerra Civil de 1860. Com uma clivagem grande entre regiões rurais – mais brancas e racistas – e a capital Atlanta – com quase um terço da população negra, índice alto para os EUA – o estado sempre tendeu mais a votar para os republicanos (como Trump) pelo baixo comparecimento às urnas da região metropolitana.
Em 2018, Abrams já havia sido candidata para governadora e também patinou nas eleições por uma margem muito pequena. Vale lembrar: é difícil para trabalhadores e pessoas pobres votarem; além disso, há o fato de que existem poucas urnas para eleição, gerando filas enormes. Foi pensando em reduzir a supressão de votos que ela criou o ‘Fair Fight Action’, um comitê de ação política focado em registrar pessoas a votarem.
No início do ano, Stacey deu apoio para o candidato bilionário Michael Bloomberg, que não foi bem nas eleições e perdeu feio nas primárias Democratas. Essa derrota política, entretanto, não a colocou para longe da corrida presidencial e ela moveu suas energias para apoiar Biden. Stacey foi ventilada como uma possível escolha para ser vice-presidente junto da chapa, mas seu nome foi preterido por Kamala Harris.
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Ela, então, abdicou de uma candidatura ao Senado e optou por ajudar Joe Biden a virar o estado majoritariamente republicano. O plano deu certo: depois de meses conversando com as comunidades negras da região metropolitana de Atlanta, esses votos acabaram dando a virada para os democratas por uma margem pequena. O ‘Fair Fight’ registrou mais de 500 mil pessoas para o voto na Geórgia.
Stacey foi candidata a governadora em 2018 e perdeu por uma pequena margem de votos; falta de eleitores registrados e estratégias republicanas para evitar que os negros votassem foram decisivas para sua derrota
Agora, Stacey, com certeza, vai alcançar um cargo importante na gestão Biden. E uma das pautas que ela quer levar adiante é a melhoria do acesso ao voto nos EUA. Uma das primeiras mudanças que Abrams pretende fazer é tornar obrigatória a licença de trabalho no dia de voto. “É inaceitável ter que decidir entre ter um emprego e ir votar”, afirma.
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“Para mim, o caminho para uma democracia ativa e com sentido é o voto. É através do acesso mais facilitado a ele que conquistaremos a capacidade de avançar em problemas como desigualdade de renda, falta de acesso ao sistema de saúde e encerrar o sistema de educação com segregação racial que ainda temos hoje em dia. Esses desafios não serão superados se não ouvirmos as vozes de todos, com engajamento na democracia”, explicou Stacey Abrams, em recente entrevista à Vox.
Não foi somente Stacy que trabalhou para uma maior participação das comunidades negras em participar do voto. Organizações como a ‘Black Votes Matter’, o ‘New Georgia Project’ a ‘Democratic Socialists of America’ também foram responsáveis pelo cadastramento de jovens no sistema eleitoral e levaram milhares de pessoas para a urna em uma vitória histórica.
Além disso, mais uma mulher negra conseguiu ganhar as eleições para deputada, aumentando o número de democratas georgianos de 4 para 6 na Câmara dos Representantes. Mais uma conquista para as mulheres negras no estado.
Em 2016, a campanha de Hillary Clinton foi incapaz de ganhar o estado da Georgia, mas isso já era o esperado. Entretanto, a provável derrota na Pennsylvania e em Michigan, dois estados predominantemente democratas, acabaram por ser dois baldes de água fria no partido de Hillary Clinton e Barack Obama.
Enorme propaganda para incentivar o voto em Detroit, uma das principais cidades dos EUA. Negra e de maioria democrata, cidade foi importante para virada no Michigan
Detroit, em Michigan, é a capital com maior população negra proporcionalmente nos EUA e a Pensilvânia também concentra muitas comunidades afro-americanas – especialmente nas regiões metropolitanas de Pittsburgh e Filadélfia.
No começo da campanha, as estrategistas do partido Democrata entendiam que seria necessário encorajar jovens negros das capitais no voto para derrotar Donald Trump. “Todos os movimentos políticos desse país tem sido impulsionados por jovens e por negros. São eles que estão na linha de frente do que é a mudança. Essa eleição – que definirá o futuro da nossa democracia – está nas mãos dessa geração”, afirmou a estrategista Antjuan Seawright, que coordenou a campanha de Biden na Carolina do Sul, ao tabloide britânico The Guardian.
Três estados com grandes áreas rurais e grandes regiões metropolitanas. Quem virou a madrugada (como eu) assistindo os resultados das eleições viu uma ampla margem de vitória de Donald Trump nessas regiões e pensaram que novamente aconteceria o mesmo que em 2016. No entanto, os votos contados eram os das regiões rurais, onde Trump, de fato, teria maioria.
Lizzo acendeu os corações da juventude negra em campanha para Biden e Harris em Detroit, na reta final da eleição
Quando os votos das regiões metropolitanas e com maior representação negra começaram a ser contados, o jogo mudou. Atlanta, Filadélfia e Detroit, em especial, viraram o jogo para Biden, que em breve será confirmado como novo presidente dos EUA.
Nas entranhas do país, novas lideranças vão se formando. Cori Bush, por exemplo, foi eleita no Distrito 1 de Missouri. A jovem mulher negra que chegou a morar na rua conseguiu entrar para o Câmara dos Representantes em Washington e vai batalhar por saúde pública e moradia popular das minorias no país. Ilhan Omar e Alexandria Ocasio Cortez se reelegeram. O país, provavelmente, terá a sua primeira vice-presidente mulher e negra na história dos EUA. E claro, Donald Trump está muito perto de ser derrotado.
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Cori Bush: da rua até a Casa dos Representantes. Negra e mãe de seis filhos, a trabalhadora da saúde é mais uma socialista no poder dos EUA
Ainda existem alguns desafios para os democratas na política americana. Os próximos quatro anos serão ainda mais difíceis, especialmente pela minoria no Senado (Republicanos ainda tem maioria). A tendência de radicalização e violência pode dificultar a governabilidade e o avanço de reformas.
Mesmo assim, com a construção de uma política mais popular, fomentando mais participação de minorias, novas conquistas sociais podem ser alcançadas. E a conexão Atlanta-Filadélfia-Detroit pode ser mais do que um símbolo contra Donald Trump, mas um caminho para uma nova vida para as vidas negras de lá.
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