Sustentabilidade

Concentração de CO2 aumenta em níveis recordes mesmo na pandemia

01 • 12 • 2020 às 09:14
Atualizada em 05 • 03 • 2021 às 12:04
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Se no início da pandemia os efeitos da desaceleração no consumo, nas grandes metrópoles e principalmente na produção industrial se tornaram visíveis – e foram muitos os registros de céus e águas mais limpas, assim como de níveis menores de poluição em todo o planeta – agora a realidade mais dura nos bate à porta: a concentração de dióxido de carbono não diminuiu em 2020. Pior: como parte de uma flutuação normal dentro do perigoso quadro do ciclo de CO2 no planeta, em verdade nesse ano, apesar da pandemia, o acúmulo aumentou. A conclusão foi levantada pela Organização Meteorológico Mundial (WMO) e publicada recentemente em um Boletim de Gases do Efeito Estufa.

Registrando os níveis atmosféricos de alguns dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa em longa duração – como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – o boletim sugere que as mudanças provocadas pela pandemia e dos bloqueios governamentais estabelecidos para conter a transmissão do novo coronavírus trouxeram reduções positivas. Tais reduções, porém, não reduziram a média geral de emissão, a partir de um cálculo que acumula emissões passadas e atuais – o aumento da concentração de 2019 fez com que a média anual global chegasse a 410 partes por milhão, confirmando uma tendência de aumento do nível de tais gases desde 1990 de cerca de 45%.

A Ponte do Brooklyn vazia em Nova York…

“Ultrapassamos o limite global de 400 partes por milhão em 2015 e apenas quatro anos depois superamos 410 ppm”, afirmou o professor Petteri Taalas, secretário-geral da WMO. “O dióxido de carbono permanece na atmosfera por séculos e no oceano por ainda mais tempo. A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi há 3-5 milhões de anos, quando a temperatura era 2-3°C mais quente e o nível do mar era 10-20 metros mais alto do que agora. Mas não havia 7,7 bilhões de habitantes.” De todo modo, para o professor as medidas tomadas na pandemia podem servir de modelo e plataforma para a necessidade urgente de mudança nas indústrias, no consumo de energia, no transporte e mais.

…assim como as ruas de São Paulo em quarentena

Para Taalas, tais transformações são possíveis e acessíveis inclusive em nível técnico e econômico – e a experiência atual da pandemia comprova tal caminho. “As mudanças necessárias são economicamente acessíveis e tecnicamente possíveis. É memorável que um número crescente de países e empresas tenha se comprometido com a neutralidade de carbono. Não há tempo a perder”, alertou. “Essa taxa de aumento nunca foi vista na história de nossos registros. A queda nas emissões relacionada ao bloqueio é apenas um pequeno sinal sonoro no gráfico de longo prazo. Precisamos de um achatamento sustentado da curva”, afirma Taalas. Segundo as estimativas do Projeto Carbono Global, as emissões diárias de CO2 chegaram a reduzir até 17% em todo o planeta durante os períodos mais intensos de quarentena – o resultado final de redução para o ano, segundo a WMO, ficará entre 4,2% e 7,5% para 2020.

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