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Começamos este especial relatando um problema: o capitalismo, como conhecemos, não só está desabando como está nos levando junto. Durante nosso branded room, fomos destrinchando sintomas e mapeando soluções. Um desafio e tanto já que “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”, como disse Mark Fisher no livro “Capitalist Realism: Is There No Alternative?”. O contexto pandêmico global mostrou ainda mais as ranhuras que há, aliás, no sistema vigente.
Durante o percurso pensamos alimentação, moradia, renda, trabalho. Mergulhamos em cada temática, ouvimos especialistas, trouxemos referências e apontamos novos possibilidades — na medida do possível e com suas devidas proporções e restrições. Chegamos aqui nos questionando se é possível implementar outro ordenamento social dentro do capitalismo ou se é necessário que o sistema morra para que, aí sim, seja substituído por um outro mais benéfico. As opiniões se dividem e talvez seja esse divergir, neste momento, justamente o caminho.
“Conseguimos ir estabelecendo outras formas de construção de economia a partir do micro e é isso que vai tomando uma proporção revolucionária de fato. São esses micromovimentos. Essa liberdade que temos de falar que o capitalismo não está funcionando e que com ele não há a menor possibilidade de frear a destruição, a devastação e a crise climática é importante para que consigamos mostrar que há outras narrativas”, diz Marina Colerato, fundadora do Modefica, criadora do Buen Vivir Book Club e dedicada aos estudos de sustentabilidade há cinco anos. Para ela, não há uma rota certeira — e aí está a maior dificuldade de sairmos desse sistema e migrarmos para outro —, mas já é um fato que estamos observando o capitalismo minguar e sofrer para se sustentar. “O próprio levante fascista global é um sintoma da deterioração do sistema capitalista. Cada vez que ele se recupera, precisa ficar mais áustero. Não vejo, por ora, uma possibilidade de ruptura, mas isso, de certa forma, se não está acontecendo, está tentando acontecer”, completa.
Bem Viver: ancestralidade e futuro
Uma das mais importantes e ativas lideranças indígenas brasileiras da atualidade, o escritor e xamã Davi Kopenawa Yanomami foi recentemente eleito para integrar a Academia Brasileira de Ciências
É um caminho aberto. Um dos. O cooperativismo, a economia solidária, a economia da dádiva ou a estacionária também despontam como outras possibilidades viáveis, como pontua Colerato: “Principalmente neste momento, não dá pra dizer que estamos avançando. Temos bastante dificuldade, sim, e não vai ser tão simples. Mas essas são algumas possibilidades. Descolonizar o imaginário — título de um livro que gosto muito — talvez seja o primeiro passo prático para que possamos escapar de soluções tecnicistas ou da economia verde, como o próprio mercado de carbono. A partir desse novo olhar você começa a ter uma visão mais ampla, passa a não aceitar qualquer coisa”. Foi o que aconteceu com as mais de cem pessoas que Marina reúne em seu Buen Vivier Book Club. Mensalmente, o grupo se encontra online para discutir obras que tragam assuntos sob o guarda-chuva da sustentabilidade. “Nunca fugindo da perspectiva latino-americana”, afirma.
A proposta dos teóricos do Bem Viver é a recuperação da cosmovisão dos povos e nacionalidades indígenas, sem assumir que o Estado é o único campo de ação possível
Questionada sobre as tantas vezes que foi chamada de pessimista, Colerato é enfática: “A esperança, do jeito que ela é, está sendo utilizada pelas elites hegemônicas e pelo poder público para servir como ideia de manutenção do status quo. Tem muito a ver com a sociedade da transparência em que vivemos, que tem o viés positivista e eu acho que isso tira a urgência das coisas. Não acredito que dê para falar em ter grandes esperanças se levarmos em consideração os estudos de mudanças climáticas que dizem que temos 11 anos para garantir o mínimo de estabilidade. Esses 11 anos já estão contando, precisaríamos começar agora e não há o menor sinal de mudança”. Para ela, a esperança não move as coisas e faz com que as pessoas permaneçam onde estão. “Então acho que sou, realmente, mais pessimista do que de esperançosa. Independente de qualquer coisa, a gente tem de fazer o que tem de fazer. As coisas precisam ser feitas e a esperança, como está posta, às vezes faz com que a gente perca de vista a realidade”.
Estamos apenas no início, mas grandes revoluções também tiveram seus pequenos despertares. Quanto a esse texto, começamos com Mark Fisher e, com um de seus questionamentos, terminamos: quanto tempo pode durar uma cultura — e aqui adicionamos um sistema socioeconômico — que persiste sem criar, verdadeiramente, o novo?
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