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Mano Brown sobre o álbum ‘Boogie Naipe’: ‘é a extensão do Racionais; não é uma outra língua’

22 • 12 • 2020 às 19:49
Atualizada em 04 • 01 • 2021 às 16:58
Bárbara Martins
Bárbara Martins   Repórter Criada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é jornalista, fotógrafa e videomaker. Envolvida pela cultura, história e arte de subúrbios e periferias, dedicou pouco mais de dois anos à cobertura de pautas relacionadas à música como redatora do site Reverb, antigo parceiro do Rock in Rio. Em formação pela UFRJ, também tem experiência com produção de conteúdo para redes sociais, assessoria de imprensa e gravação de sessions e entrevistas.

“Este som é funk“, já dizia DJ Nel na faixa “1 Por Amor, 2 Por Dinheiro“, do álbum de 2002 dos Racionais MC’s. Talvez o uso da palavra “já” nem seja o correto neste caso. Todo o conjunto da obra do grupo de rap mais importante do país passa, desde o início de suas três décadas de existência — a começar pelo nome inspirado em Tim Maia —, pelas diversas outras vertentes da música negraMano Brown, 49 anos, como um dos membros fundadores e  declarado dos ritmos negros que embalaram os anos 1970 e 1980, não poderia (nem gostaria) de deixar essa característica de lado em seu primeiro projeto solo. “Boogie Naipe“, lançado em 2016, é parte da raiz original do Racionais — e do próprio Pedro Paulo Soares Pereira, seu nome de batismo.

– Mano Brown ganha releitura romântica e que valoriza afetividade negra na música

“O discurso do Racionais é cantado em cima de uma música de outra época, que antecede o Racionais, e que, sem ela, não existiria o Racionais”, explica Mano Brown, em entrevista ao Reverb. Durante passagem pelo último dia da Game XP, realizada entre 25 e 28 de julho deste ano, no Rio de Janeiro, o rapper paulista se apresentou ao lado da banda Boogie Naipe com repertório rico em funk americanosoul e R&B — assim como o universo do álbum. Serviu como uma prévia próxima do que será mostrado no Rock in Rio 2019, no Palco Sunset, no dia 27 de setembro, com todas as evoluções após três anos de apresentações ao vivo.

Mano Brown durante apresentação com a banda Boogie Naipe no Rock in Rio 2019

“Lá em São Paulo, essa cultura da música americana é muito presente […] Eu, como um cara criado na periferia de uma grande cidade, fui influenciado por essa música, que é um documento, é uma fase da humanidade”, diz Brown, cuja maior referência na black music é (não por acaso quase homônimo) James Brown, mas sem deixar de lado Marvin Gaye e outros nomes do gênero. “Eu não tive um pai presente, mas aprendi como ser negro e ser homem ouvindo a música desses caras.”

O romantismo e o ritmo dançante de figuras brasileiras como Jorge BenTim Maia e Cassiano tambémserviram de inspiração para Pedro Paulo e, junto ao samba e pagode de Zeca PagodinhoGrupo Sensação e Fundo de Quintal, contribuíram para o nascimento da era “Boogie Naipe”. “É lógico que me traz uma felicidade, me traz aquelas lembranças”, conta Brown sobre se dedicar à música negra com foco em outros ritmos. “É louco isso. É o som que eu sempre sonhei fazer, o som do ‘Boogie Naipe'”.

É louco isso. É o som que eu sempre sonhei fazer, o som do ‘Boogie Naipe’

Ao contrário do que possa parecer, a mistura de tantas referências não afasta Brown do rap. “As pessoas quando ouvem o nome Mano Brown ligam diretamente ao Racionais, e não tem como eu me desligar disso. Porém, o ‘Boogie Naipe’ é a extensão do Racionais. Não é uma outra língua, é a mesma língua. É a mesma linhagem. É a continuação da ideia.”

No Rock in Rio 2019, Mano Brown e sua banda funk-soul terão companhia ilustre no Palco Sunset: o baixista americano Bootsy Collins. Ídolo do funk dos anos 1970, o músico é querido por toda a formação da Boogie Naipe. “Imagina o baixista da minha banda como está para encontrar o Bootsy Collins”, ri Brown. “A banda toda está muito ansiosa para encontrar o cara.”

ASSISTA À ENTREVISTA DE MANO BROWN NA ÍNTEGRA:

*Esta entrevista foi publicada originalmente no site Reverb, em julho de 2019.

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