A professora de medicina veterinária Gabriela Ramos Leal (@gabivetleal) tem uma facilidade imensa para explicar assuntos difíceis de forma simples. Com um vocabulário acessível para quem não entende nada do assunto e muito carisma, ela venceu a etapa brasileira do maior festival de divulgação científica do mundo, o FameLab, organizado pelo British Council, e levou o prêmio na categoria Voto Popular na etapa mundial com uma aula de apenas três minutos explicando como os cavalos estão ajudando nas pesquisas para encontrar uma vacina para a Covid-19.
Gabi aparece em telão após ser anunciada como vencedora da etapa brasileira do FameLab.
O tema escolhido veio da vontade de mostrar às pessoas que a medicina veterinária não é só para cuidar de animais. “Percebi que a veterinária ainda é pouco conhecida da população. Acham que tratamos apenas de pets. Adoramos fazer isso, mas nosso escopo é muito maior. Eu, por exemplo, sou especialista em bovinos e reprodução in vitro. E a medicina veterinária pode ajudar na saúde humana, a combater a pandemia”, explicou, em entrevista ao jornal “O Globo”, a carioca de Quintino, na Zona Norte do Rio.
Aos 34 anos, Gabi conta que desde criança é apaixonada pelos filmes de princesa da Disney. A ligação com os filmes de animação foi usada como gancho para um dos vídeos apresentados por ela no concurso. Com a ajuda de bonecos Funko, explicou que sempre gostou de reparar nos animais dos longas.
“Vocês já repararam como todos os bichinhos nesses filmes têm algum tipo de talento especial? Os passarinhos cantam e arrumam a casa, os ratinhos da Cinderella costuram o vestido para ela ir ao baile. O Abu, do Aladdin, consegue comida para garantir a sobrevivência. É incrível”, diz. “Mas o mais legal é que os animais são igualmente incríveis na vida real”, diz ela antes de enumerar os talentos especiais dos animais na vida real que “servem para ajudar as pessoas”.
Gabi é professora na Universidade Castelo Branco e pós-doutoranda na Universidade Federal Fluminense. Filha de mãe negra e pai branco, ela foi a primeira da família materna a se formar na faculdade e sabe bem o quanto isso é significativo. Ainda mais em um país como o Brasil, que enxerga em muitas faces do racismo estrutural, algo comum e não problemático.
“O racismo está presente o tempo todo. Ele está no inconsciente coletivo e dói mesmo quando não tem a intenção de ofender. Quem é preto sabe do que falo. O racismo está, por exemplo, na expressão de surpresa de clientes da clínica veterinária quando descobrem que a médica sou eu e não a atendente loura”, lamenta. Quando se formou na graduação, Gabi era a única aluna negra da turma.
“Estamos vivendo uma pandemia que começou porque alguém entrou em contato com carne de animal silvestre não inspecionada em Wuhan, na China. Aqui no Brasil, o trabalho da vigilância sanitária existe justamente para evitar que este tipo de situação aconteça.”
Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.