Reverb

Roqueiros fazendeiros: duo Inspector Cluzo divide a vida entre os palcos e a criação de foie gras orgânico

21 • 12 • 2020 às 21:00
Atualizada em 04 • 01 • 2021 às 18:02
Veronica Raner
Veronica Raner Jornalista em formação desde os sete anos (quando criou um "programa de entrevistas" gravado pelo irmão em casa). Graduada pela UFRJ, em 2013, passou quatro anos em O Globo antes de sair para realizar o sonho de trabalhar com música no Reverb. Em constante desconstrução, se interessa especialmente por cultura, política e comportamento. Ama karaokês, filmes ruins, séries bagaceiras, videogame e jogos de tabuleiro. No Hypeness desde 2020.

Primeiro de tudo, eles não são estrelas do rock. Mathieu Jourdain, baterista do duo de folk rock francês Inspector Cluzo, é taxativo ao rechaçar a alcunha para ele e Laurent Lacrouts, guitarrista, a outra metade do projeto. A vida dos dois é dividida entre palcos mundo a fora e uma fazenda em Landes, na região da Gasconha, no sudoeste da França. Lá, os dois criam gansos, plantam milho e comercializam seus produtos orgânicos para a população local. Além, é claro, de fazer música em um estúdio dentro propriedade.

Orgânicos ganham em popularidade e setor tem 15% de aumento

Mathieu Jourdain e Laurent Lacrouts, os integrantes do duo Inspector Cluzo.

Nós odiamos essa definição de ‘estrelas do rock’ porque somos independentes e fazemos tudo sozinhos. Escrevemos nossas músicas, produzimos tudo, reservamos as nossas turnês, coordenamos todas as pessoas e temos a nossa gravadora, então não podemos ser estrelas de rock. Somos apenas roqueiros que cuidam de uma fazenda e que são auto suficientes”, explica Mathieu em entrevista dada ao Reverb da Lou Casse, nome da propriedade rural.

A dupla é dona da fazenda desde 2013, quando decidiu pôr em prática a ideia de agir localmente e pensar globalmente. Para eles, criar patos, gansos, cabras e plantar suas próprias sementes é uma forma de responder a um mundo intensamente conectado que tenta impor modelos econômicos e financeiros. É uma resposta auto-suficiente de fortalecimento local, sem a pretensão de transformar o mundo.

Saudável, orgânico e sustentável: a revolução dos millennials e a indústria alimentícia

Nossos avós sempre fizeram isso. Eles se alimentavam do que produziam nas fazendas, então é uma semente que nós temos dentro de nós”, diz o baterista do duo cujo nome foi inspirado no personagem de “A Pantera Cor de Rosa”.

Mathieu e Laurent se conheceram na faculdade, ainda nos anos 1990. Como banda, já fizeram shows em mais de 50 países. Nos dois últimos álbuns, “Rockfarmers” e “We The People of The Soil”, trabalharam com Vance Powell, vencedor do Grammy por seis vezes e que já produziu para Jack White e The Racounters. A parceria também foi influenciada pela vida que os dois levam na área rural da França.

10 maneiras práticas para encontrar alimentos orgânicos e revolucionar seus hábitos

Foi uma oportunidade incrível trabalhar com o Vance. Ele grava tudo de forma analógica, com reverbs analógicos. Foi exatamente o que a gente estava procurando porque somos fazendeiros orgânicos, então para a gente era uma escolha óbvia fazer um som que também fosse orgânico. E o Vance faz isso muito, muito bem.

Enérgicos no palco, na vida pacata da Lou Casse reinam a paz e a calmaria. Os roqueiros fazendeiros levam muito a sério seus compromissos locais. Shows e turnês nunca são marcados se há um trabalho importante a ser feito na fazenda. A divisão de tarefas tem igual valor para eles.

No inverno, há o período de alimentar os gansos, ou a época de colher o trigo. Em abril, logo após o show que faremos no Lollapalooza Brasil, teremos que voltar para a fazenda para plantar o milho”, explica. “Nós não somos apenas dois na fazenda, há outras pessoas trabalhando lá, como a mulher do Laurent e alguns dos nossos vizinhos. Isso nos ajuda a sair para as turnês de vez em quando.

Enquanto estrelas do rock vendem merchandising comum — como camisas, casacos, canecas — em suas lojas virtuais ou após os shows, a Inspector Cluzo vende foie gras orgânico (produzido sem maltratar os animais) e patês.

A gente não pode levar todos os produtos para os shows porque não produzimos muito e optamos por priorizar o mercado local e as pessoas da região. Muitos fãs ficam desapontados porque queriam comprar um confit noir na banca de vendas”, ri Mathieu. “Mas eles podem comprar o nosso último álbum e também levar um produto saboroso e orgânico.

 

Publicidade

Fotos: Divulgação/Inspector Cluzo


Canais Especiais Hypeness

Especiais