Patrimônio imaterial da música brasileira, ele é conhecido por apreciar a vida sem muita pressa. Autor de mais de dez livros, cantor e compositor com cerca de 60 anos de experiência no samba, Martinho da Vila, 81 anos, é um dos grandes contadores de histórias cotidianas. Em entrevista ao Reverb durante a XIX Bienal do Livro, realizada entre 30 de agosto e 8 de setembro deste ano, o sambista carioca deu detalhes sobre a publicação de “2018 – Crônicas de Um Ano Atípico“, além de falar das novas gerações da música nacional, de futuros projetos e de sua vontade insaciável de conhecer sempre mais.
“O cara que já está realizado já pode morrer”, disse Martinho durante a mesa “Muito Além da Música” no Café Literário do dia 4 de setembro, na Bienal do Rio de Janeiro. Ao lado de Elza Soares, 82, e do jornalista e mediador da conversa Zeca Camargo, 56, o amor do artista por se apresentar e por continuar trabalhando foi tema constante. “O melhor lugar do mundo, para mim, é o palco. Se eu estiver com uma dorzinha de cabeça, ela passa.”
Quase todos os meus sambas são crônicas. São crônicas do dia a dia, de coisas que acontecem, de pensamentos, de mensagens
Em maio deste ano, a voz de “Devagar, Devagarinho” lançou “2018 – Crônicas de Um Ano Atípico” — o segundo livro de crônicas da carreira de escritor — e autografou exemplares durante o evento literário de setembro. A publicação é dividida em acontecimentos de todos os 12 meses de 2018, ano em que Martinho completou oito décadas de vida. Mas dentro e fora do universo impresso da prosa, ele segue mestre na observar e contar causos do cotidiano. “Quase todos os meus sambas são crônicas. São crônicas do dia a dia, de coisas que acontecem, de pensamentos, de mensagens”, contou ao Reverb.
Referência para novos artistas do cenário de música do Brasil, Martinho cita BK, Criolo, Emicida, Rappin’ Hood e Otto como alguns dos que mais gosta. “Essa rapaziada toda que está por aí fazendo som, escrevendo também, a maioria cresceu me ouvindo, porque foram muitos anos fazendo sucesso nas casas das famílias”, diz. Em primeiro encontro com o rapper Criolo, o sambista foi tratado com muito carinho. “Ele (Criolo) falou: ‘Eu cresci ouvindo você’. A mesma coisa foi Emicida, Otto e muitos outros. Então, eu me sinto assim: normal mesmo. Eles também me tratam com normalidade. Às vezes eu penso que eu sou igual a eles”, ri.
Com um novo álbum sobre o Rio de Janeiro a caminho — previsto para 2020 —, Martinho já tem data marcada para o próximo show: 12 de outubro, no Vivo Rio. “Vai ser um show alegre e muito informativo. Eu vou me divertir e acho que quem for também”, garante. “Eu fico sempre feliz quando eu consigo fazer com que as pessoas saiam mais felizes do show do que quando chegaram.”