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Se até hoje lidamos com o machismo em diversas profissões, imagine como foi para Gioconda Mussolini, a primeira antropóloga brasileira. Ela enfrentou todos os desafios de ser uma mulher a escolher a carreira, ainda no século 20, um ambiente acadêmico predominantemente masculino.
Gioconda nasceu em 15 de novembro de 1913, sendo a terceira de sete filhas do imigrante italiano Umberto Mussolini. E não, eles nada têm a ver com o ditador fascista italiano Benito Mussolini. Aliás, é possível que essa confusão tenha atrapalhado a vida da estudiosa.
Ela foi a primeira da família a frequentar a universidade e chegou a ser pioneira no ensino de antropologia na Faculdade de Filosofia da USP.
Foi lá que Gioconda enfrentou seu maior desafio dentro da academia: lidar com a grande maioria masculina no ensino superior em um momento no qual o estudo antropológico ainda pouco existia oficialmente no Brasil.
Ela, que é mãe da antropologia no Brasil foi professora e se aproximou da primeira e segunda gerações de cientistas sociais brasileiros, como Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso e Ruth Cardoso. Antes de conseguir seu título de mestre, lá em 1944, ela esteve na importante Cadeira de Antropologia da instituição.
A relevância de Gioconda Mussolini para a antropologia brasileira pode ser dividida em três direções: Primeiro, por ela ter protagonizado os primórdios do ensino da disciplina, numa instituição pioneira como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, a partir de 1938; segundo, por sua contribuição ao campo da ‘antropologia da doença’; finalmente, e sobretudo, o nome dela é referência fundamental para os estudos brasileiros sobre comunidades caiçaras de pescadores do litoral de São Paulo, sobretudo em Ilhabela.
Na “Sociologia: revista didática e científica”, fundada em 1939 por Emilio Willems, aparece em 1945 o artigo “O cerco da tainha na Ilha de São Sebastião”, o primeiro publicado por Gioconda sobre temas relativos à pesca.
Logo a seguir, em 1946, aparece na mesma revista “O cerco flutuante: uma rede de pesca japonesa que teve a Ilha de São Sebastião como centro de difusão no Brasil”. Nestes que são seus primeiro textos sobre o tema, ela técnicas de pesca em geral.
Além de nunca antes explorado, essa temática carregava uma carga ainda mais masculina não só por ser uma profissão majoritariamente masculina à época, mas sendo também reforçada por uma lenda caiçara que dizia que mulheres davam azar quando subiam nos barcos. Artimahas do machismo para mantê-las longe das embarcações.
Lendas, porém, não impediram a pesquisadora de investigar essa cultura. Ela declara logo que teve “oportunidade de conversar com inúmeros mestres de lanchas” (Mussolini, 1980, pp. 261-2), e a maioria das informações etnográficas apresentadas parecem mesmo ter como fonte os pescadores da ilha de São Sebastião e a própria observação participante da autora.
O artigo traz descrições importantes e inéditas para a época: constituição das tripulações dos barcos que se dedicam à pesca da tainha, tanto as lanchas que empregam assalariados quanto as canoas dos pequenos pescadores; rotas de comercialização do pescado; equipamentos de captura, suas técnicas de fabricação, reparo e utilização, e seus custos; conhecimentos ecológicos dos mestres; ideologia dos pescadores; partilha das receitas.
Mas o pano de fundo do artigo é a distinção entre essa “pequena” pesca à tainha e a praticada pelos barcos e pelas traineiras das companhias de Santos, distinção que a autora desdobra, até este momento, em termos econômicos, técnicos e ideológicos.
Em sua grande maioria, os estudos aprofundados de Gioconda sobre as comunidades de pescadores daquela região, escritos entre 1945 e 1968, foram reunidos após sua morte na coletânea “Ensaios de Antropologia Indígena e Caiçara”, publicada em 1980 pelos seus colegas acadêmicos Antonio Candido e Edgard Carone.
“A minha hipótese é que o orientador dela na época [Schaden] não a ajudou a defender a tese porque sabia que, quando ele se aposentasse, Gioconda se tornaria a chefe da cadeira. Mas ele preferia que [o chefe] fosse um homem”, avalia Andrea Ciacchi, em entrevista à Revista Galileu. “Várias pessoas que conheceram Egon e Gioconda, como a própria Ruth Cardoso, me confirmaram isso.”
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