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Em julho de 1987, o Grêmio excursionava na Suíça para jogar a ‘Copa Phillips’, um torneio amistoso de clubes patrocinados pela empresa holandesa de energia. Após uma partida contra o Benfica de Portugal, quatro jogadores foram detidos por uma acusação de estupro contra uma menor de idade de apenas 13 anos.
Henrique, Fernando, Eduardo e Alexi (Cuca) foram presos. A delegação gremista continuou seus jogos normalmente. No Brasil, eles eram vistos como vítimas da situação. O ‘Escândalo de Berna‘ tomou a imprensa esportiva e, com olhar de hoje, podemos perceber como a violência sexual era normalizada pela sociedade brasileira e como a cultura do estupro operava no nosso país.
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Fernando, Henrique, Eduardo e Cuca foram condenados por atentado violento ao pudor com violência após acusação de relação sexual com jovem de 13 anos de idade
Após a partida entre Grêmio e Benfica, vencida pela equipe brasileira por 2 a 1, os atletas gremistas foram para um hotel em Berna, na Suíça. Uma adolescente de 13 anos queria flâmulas e camisas do time, e foi ao quarto onde estavam hospedados os quatro jogadores. Ela estava acompanhada de dois amigos, que foram expulsos do quarto pelos gremistas.
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Algumas horas depois, a polícia suíça foi ao quarto e prendeu Henrique, Fernando, Eduardo e Cuca. A alegação é de que dois deles teriam estuprado a jovem de apenas 13 anos.
Durante um mês, eles ficaram presos. O Grêmio continuava jogando normalmente. Luiz Felipe Scolari (Felipão), técnico da equipe, afirmou que o caso era uma pena pelo “trauma emocional”. Após o tricolor terminar a excursão europeia invicta, o treinador disse: “Os jogadores não conseguiram se desligar do trauma de seus companheiros e, mesmo assim, voltamos invictos.”
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Quando observamos a cobertura da imprensa brasileira sobre o caso, vemos como uma acusação de estupro contra uma jovem de 13 anos era algo normalizado pela leitura da opinião pública. Em 08 de agosto de 1987, o Estadão noticiava o episódio: o texto de Rui Martins afirmava que a hipótese da defesa – de que não houve sexo não-consensual – era provavelmente verdadeira.
Na imprensa gaúcha, a defesa dos jogadores era ainda mais forte: “Um deslize de ordem sexual em que, visivelmente, colaborou para a consumação a conduta, no mínimo, quase conivente da chamada vítima, não deve servir de amparo a uma decisão drástica”, defendeu o colunista Paulo Santana, no jornal Zero Hora.
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Após um mês detidos, os jogadores do Grêmio foram libertados da cadeia. Segundo um juiz de garantias, a prisão preventiva não fazia sentido porque não havia evidências de que houve violência de fato. Voltaram ao Brasil.
“Resta dar as boas vindas aos nossos doces devassos”, afirmou um artigo do jornalista Wianey Carlet, no jornal Correio do Povo, quando os jogadores voltaram à Porto Alegre.
Um ano depois, os quatro foram condenados por atentado violento ao pudor contra menor de idade. Como nosso país não possui extradita seus cidadãos e não possui acordo de extradição com a Suíça, os jogadores seguiram normalmente suas vidas.
Ainda que houvesse consentimento, a lei suíça afirma que qualquer relação sexual com menor de 14 anos é crime de estupro. Em 2002, a pena prescreveu e nenhum dos quatro jogadores cumpriu sua dívida com o sistema judiciário suíço ou com a vítima. O caso ficou esquecido pela imprensa nacional.
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Eduardo e Fernando não tiveram carreira brilhante no futebol na posteridade. Henrique ainda jogou por alguns clubes grandes, como o Corinthians. Mas o na época chamado Alexi, ou melhor, Cuca, como é conhecido hoje, brilhou dentro e fora dos gramados. O condenado por atentado violento ao pudor saiu do Grêmio e jogou no Palmeiras da Parmalat, no Real Valladolid, da Espanha, no Inter de Porto Alegre, no Santos e na Portuguesa dos anos 90. Após a aposentadoria, se tornou um treinador consagrado. Venceu diversos estaduais, foi campeão da Libertadores, do Campeonato Brasileiro e da Copa da China.
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O caso de violência sexual claramente ocorreu. Ainda que os envolvidos alegassem que a relação foi consensual e que ela “parecia mais velha”, a justiça Suíça não entendeu dessa forma e condenou os quatro jogadores.
Três atletas, incluindo Cuca, foram condenados por atentado ao pudor com uso de violência. Um deles foi condenado apenas por conduta violenta.
A defesa de Cuca sempre se baseou no relato da vítima, que não o reconheceu como agressor e não o incluiu no relato de estupro. Entretanto, ele esteve no quarto durante todo o período da relação não consensual e não impediu o ocorrido.
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A polêmica de Cuca se reacendeu no ano passado. Então treinador do Santos, ele defendeu a contratação de Robinho, também condenado por estupro na Europa. O ‘Escândalo de Berna‘ voltou à tona. Agora, uma manifestação da torcida do Atlético Mineiro pediu para que o clube de Belo Horizonte não contratasse Cuca como treinador.
Em 2017, a torcida do Galo pediu que Robinho, então atleta do clube, fosse desligado do elenco após a condenação em primeira instância por estupro na Itália.
Nesse ano, hashtag #CucaNão invadiu as redes sociais para relembrar o caso e mostrar que o ‘Escândalo de Berna’, acobertado pela imprensa e esquecido pelo público, passou impune na carreira dos assediadores. A diretoria do Atlético Mineiro manteve a contratação de Cuca, que se declara inocente até hoje.
“Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, tentativa de abuso ou coisa assim. (…) Esse episódio de 1987 precisa ser explicado. Eu estava no Grêmio havia duas ou três semanas apenas, não conhecia ninguém. Eu jamais toquei numa mulher indevidamente ou inadequadamente. Sou um cara de cabeça e consciência tranquila”, afirmou em entrevista recente ao blog da jornalista Marília Ruiz no UOL.
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