Arte

Anitta: a estética de ‘Vai Malandra’ é uma obra-prima

21 • 05 • 2021 às 09:47 Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Em 10 de dezembro de 2017, a cantora Anitta lançava seu hit que dominou as paradas do Brasil por meses. ‘Vai Malandra’, em parceria com Mc Zaac, Yuri Martins e os Tropkillaz se tornou um hit instantâneo. E a estética desenvolvido por Anitta para a obra tem relevância social e cultural até os dias de hoje.

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O marcante biquíni de fita isolante utilizado por Anitta durante boa parte do clipe é, até hoje, uma das imagens mais importantes da carreira da cantora e um símbolo da cultura pop brasileira na última década, que saiu da vida leblonesca para se voltar ao grande público do Brasil.

Anitta: antropofagia de quebrada em clipe que revela estéticas da periferia na boa mistura do trap com o funk

‘Vai Malandra’ foi o último lançamento do projeto CheckMate, de Anitta, que contemplou hits como ‘Will I See You?’ e ‘Downtown. A ideia das canções, que se tornaram um EP posteriormente, era colocar Anitta no lugar da carreira internacional. E de fato, essas músicas reposicionaram a cantora: ela foi de um hit no Brasil para uma explosão da América Latina.

Vai Malandra, entretanto, merece uma atenção especial, pois é a canção que melhor resume o som e a estética de Anitta: é um compilado do internacional – com o beat trap dos Tropkillaz e as rimas de Maejor – e o brasileiríssimo funk do DJ Yuri Martins.

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O refrão sensual de Anitta é marcante de outros hits da cantora, lembremos de ‘Bang’, Sua Cara’, ‘Downtown’ e, posteriormente, ‘Girl From Rio’.

Polêmico, sensual, empoderador: essência de Vai Malandra é revelar a realidade da periferia das grandes capitais brasileiras e clipe acerta em cheio

O clipe ‘Vai Malandra’, entretanto, é a consolidação do que Anitta desejava passar com a canção. A cantora não parece interessada em antropofagizar sua arte, ou melhor, criar um Brasil comercializado para inglês ver. A ideia é justamente exportar a realidade da quebrada brasileira através de uma das mais icônicas favelas do país: o Vidigal.

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A abertura do clipe com uma bunda com celulites já mostra a realidade crua e não plastificada que Anitta deseja imprimir no expectador. Posteriormente, cenas do cotidiano carioca das favelas são colocadas em cena: os bronzeamentos com fita isolante, a sinuca, a piscina em uma caçamba e, claro, sua cristalização em um baile de favela.

“A mulher real tem celulite, a maioria tem. A estética de “Vai Malandra” é muito verdadeira, mostra uma favela real e com pessoas da comunidade. Fico feliz em saber do impacto positivo que a minha celulite teve nas mulheres. Nós devemos nos unir e parar de julgar os corpos e as escolhas umas das outras”, afirmou Anitta sobre o clipe.

Vai Malandra é polêmico, divertido, real, cru e genial, assim como a realidade do nosso país.

“Quando decidi encerrar o CheckMate (série de clipes, com um lançamento por mês) com “Vai Malandra”, eu quis voltar às minhas origens e mostrar a realidade das favelas cariocas. O funk é um ritmo que veio da periferia. É um gênero tão rico, tão brasileiro, e cheio de cultura, mas ao mesmo tempo não tem o reconhecimento que merece. A “malandra” do clipe não é objetificada, ela é a dona da história. E ela não é representada somente por mim, mas por todas as mulheres que participaram do clipe, na cena da laje ou na do baile. O clipe mostra diversos tipos de beleza, com diversas cores, pesos e gêneros. E toda essa beleza também é real, assim como a minha celulite”, disse Anitta, em entrevista ao jornal O Globo.

O momento apoteótico de ‘Vai Malandra’ é o fim do clipe. Em um baile funk, uma diversidade enorme de pessoas entra em cena: são mulheres brancas, negras, gordas, magras, trans e cis invadindo a tela e mostrando que o baile, essa instituição marcante para a cultura periférica brasileira, é um espaço plural.

A direção do clipe foi realizada por Terry Richardson. Logo após a divulgação da participação de Richardson no projeto, começaram a eclodir denúncias de estupro e assédio sexual contra o diretor da obra. Richardson é um conhecido fotógrafo de moda e mais de 11 mulheres o denunciaram por violência sexual.

Anitta prontamente emitiu uma nota rechaçando a participação de Terry e ao divulgar os créditos do clipe omitiu o nome de Richardson da obra. A cantora Anitta nunca mais trabalhou com Richardson que, desde 2018, enfrenta processos judiciais por crimes sexuais no estado de Nova York.

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“Imediatamente após tomar conhecimento sobre as acusações de assédio que envolvem o diretor Terry Richardson solicitei que minha equipe avaliasse o contrato para verificar o que juridicamente poderia ser feito. Estudamos todas as possibilidades, que foram além das questões jurídicas, passando também pelo envolvimento emocional, levando em consideração o imenso trabalho digno de todos os artistas e colaboradores que de alguma maneira fizeram este clipe acontecer. Esse não é um trabalho de uma pessoa só. Manterei minha promessa aos moradores do Vidigal e aos meus fãs lançando o clipe de “Vai Malandra” em dezembro deste ano. Mostrando um pouco das minhas origens e mais sobre o funk carioca, do qual me orgulho muito de ser representante. Como mulher faço questão de reafirmar que repudio qualquer tipo de assédio e violência contra nós e espero que todos os casos dessa natureza sejam sempre investigados com a relevância e seriedade que merecem”, disse à época.

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Seria tolo, entretanto, resumir o clipe de ‘Vai Malandra’ à Richardson. Aliás, um gringo não teria o arcabouço referencial para realizar aquela obra. O clipe contou com direção criativa de Marcelo Sebá, styling de Yasmine Sterea e, claro, com a idealização de Anitta.

Relembre o clipe de ‘Vai Malandra’:

Além disso, participam do clipe todos os artistas do feat, além de Jojo Toddynho e Rodrigo Baltazar, além de diversos moradores do próprio Vidigal. Vai Malandra foi composta por Anitta, DJ Zegon, Yuri Martins, Laudz, Maejor e MC Zaac.

‘Vai Malandra’, de Anitta, ainda se mantém atual e mostra que além de preocupada com uma representação adequada e real de um Brasil diverso, a cantora é dona de uma capacidade artística incomparável no nosso país.

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