Arte

Festival de ópera na Áustria transforma o palco em uma gigante – e flutuante – obra de arte

14 • 05 • 2021 às 09:08 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O maior palco flutuante do mundo fica em Bregenz, na Áustria, e é sobre ele que anualmente acontece o Festival de Bregenz, um dos mais incríveis e singulares festivais de ópera do mundo – pois nele, junto da música e das interpretações, a grande estrela do evento costuma ser o próprio palco. Para receber grandes montagens de alguns dos maiores clássicos da ópera internacional, o festival transforma a superfície sobre as águas do lago Constance em uma obra cenográfica gigantesca – tornando ainda mais épica e grandiosa cada apresentação.

Montagem de La Boheme, de 2002

Montagem de La Boheme, de 2002

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Uma das mais célebres montagens ocorridas no festival se deu no ano 2000 para a peça Um Baile de Máscaras, do compositor italiano Giuseppe Verdi: a cenografia transformou o palco em um imenso livro, sendo manuseado por um esqueleto saindo da água. São diversas, no entanto, as montagens inesquecíveis que tornaram o palco em obra grandiosa como a música ali executada – qual se deu em 2017 com a montagem da ópera Carmen, do compositor francês Georges Bizet: duas mãos saindo do lago atiram um baralho sobre o palco – e foi em cima das cartas gigantes que os artistas se apresentaram.

Montagem de Carmen, de 2017

Montagem de Carmen, de 2017

Um Baile de Máscaras, de 2000

Um Baile de Máscaras, de 2000

Cenário de Fidelio, de 1995

Cenário de Fidelio, de 1995

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A história do festival começa no ano seguinte ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946, celebrando a obra de Mozart e, claro, o fim do conflito. A cidade de Bregenz, porém, não possuía então um teatro, e decidiu tornar sua principal atração, o vasto lago Constance, no palco de tal celebração. Inicialmente a ideia era que a montagem flutuante fosse uma solução temporária, mas o sucesso foi tamanho que em 1950 o festival se tornou oficial, e passou acontecer durante os meses de julho e agosto anualmente. São costumeiramente duas as estruturas montadas sob as águas: uma para receber os cantores, atores e atrizes, e outra para a orquestra, e cada obra escolhida é apresentada por dois anos consecutivos.

Outra montagem de Carmen, de 1991

Outra montagem de Carmen, de 1991

Cenário para West Side Story, de 1981

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As 1001 Noites, em 1959

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A plateia se localiza em uma semi arena, um semicírculo inclinado com capacidade para 7 mil pessoas, e pode apreciar não somente os espetáculos e o forte apelo visual do palco, mas também os pores-do-sol que costumam abrilhantar ainda mais as montagens. Para se apresentar no festival é preciso, além da excelência no canto e na atuação propriamente – ou em seu instrumento, se tratando de um membro da Orquestra Sinfônica de Viena, a maior parceira do festival – é necessário saber nadar e não ter medo de altura: já houve acidentes em que um artista acabou sem querer na água, mas ninguém se feriu.

A última montagem antes da pandemia, de Rigoletto, em 2019

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A pandemia fez com que pela primeira vez em 74 anos o Festival de Bregenz deixasse de acontecer, em 2020 – manteve-se no teatro a céu aberto a estrutura da montagem de Rigoletto, ópera de Verdi que foi apresentada em 2019, sem cumprir seu segundo ano no Festival. Por isso, a montagem de Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, teve de ser adiada, e na volta do Festival, em julho e agosto de 2021, o segundo ano de Rigoletto será enfim realizado, com 28 apresentações agendadas.

Outras montagens menores e apresentações de música e poesia completam a programação do festival, que pode ser vista na íntegra aqui.

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© fotos: Karl Foster/divulgação


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