Debate

Menstruação: um processo natural carregado de mitos e preconceitos

13 • 05 • 2021 às 18:51
Atualizada em 04 • 06 • 2021 às 13:26
Gabryella Garcia
Gabryella Garcia Gabryella Garcia é paulista, mulher trans, transfeminista e jornalista pela Unesp. Começou a carreira escrevendo horóscopos para o João Bidu e agora foca em escrever sobre direitos humanos e recortes de gênero. Já passou por veículos de São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e também colaborou para veículos como Ponte Jornalismo, Congresso em Foco e Elle Brasil. Atualmente, além de produzir o podcast "Prosa", para o Hypeness, também colabora com o UOL. Além disso atua como voluntário no Projeto Transpor, um projeto que oferece consultoria profissional gratuita para pessoas transgêneros com montagem de um currículo assertivo, Linkedin e simulação de entrevistas de emprego.

No dia em que o ‘Prosa’ completa a sua primeira dezena de episódios, o tema em debate é a menstruação. Apesar de um processo biológico extremamente natural, ela vem carregada de mitos, inverdades, preconceitos e até mesmo machismo. Para desmistificar esses conceitos, convidamos para a prosa desta semana a médica e obstetra, Aline Calixto, a pesquisadora de corpos e ciclos menstruais, Maria Chantal, e o jornalista e homem trans, Caê Vasconcelos.

Antes de começar qualquer discussão sobre o tema, é importante que tenhamos em mente que a menstruação é uma função biológica, e não “coisa de mulher”. É possível falar de menstruação sem deixar ninguém de fora, portanto, sem qualquer relação com gênero, homens trans, intersexuais e pessoas não-binárias também podem menstruar.

menstruação mitos e preconceitos

A menstruação é um processo biológico e natural para mulheres cis, homens trans, pessoas não-binárias e intersexo

Mitos, inverdades e preconceitos

Por uma questão de construção e formação cultural, diversos pensamentos extremamente misóginos sobre a menstruação alimentam o estigma de sujeira, nojo e fazem as pessoas terem vergonha de um acontecimento que é natural e inevitável, chegando mesmo a tentar escondê-lo. E, enquanto esse tipo de estigma se perpetua, pontos importantes como conhecimento dos ciclos, sexualidades e informações relativas à saúde coletiva são deixados de lado.

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Para Maria Chantal, a menstruação é considerada como um lugar de descoberta de quem ela é e também uma forma de relacionar com o mundo. “A menstruação faz parte de algo maior, ela em si é apensas a primeira fase de um ciclo. Há pessoas que não menstruam pelo uso de anticoncepcionais e hormônios sintéticos, mas falando de uma maneira mais técnica, a menstruação nada mais é do que a descamação mais interna do útero pela baixa do hormônio estrógeno. É um acontecimento absolutamente natural”.

A médica Aline Calixto, também pontuou que a menstruação não necessariamente tem a ver com a ovulação, pois em ciclos muito longos há pessoas que sequer ovulam. Ponderou que é um sinal de saúde e funcionamento do corpo, mas também fez um alerta para o risco do uso de pílulas anticoncepcionais de maneira contínua.

“Não fazer uma pequena pausa durante o uso da pílula anticoncepcional pode levar a uma atrofia do endométrio. Ainda não existe um consenso, mas teoricamente, à longo prazo, essa atrofia pode não ser segura se pensarmos na possibilidade de câncer, por exemplo”.

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As cólicas e dores são um dos maiores problemas e incômodos para pessoas que menstruam, muitas vezes as impedindo de realizar suas atividades

Durante a prosa, o jornalista Câe Vasconcelos também compartilhou um pouco de sua experiência de ser um homem que menstrua. “Durante muito tempo foi o pior momento do mês para mim, mas pelas dores. A menstruação em si nunca foi um problema. Hoje fico feliz de não ter (menstruação) pelas cólicas, mas a maior questão para mim sempre foram as dores”.

Quero ter filhos e vou ter que estar muito pronto para ser um homem grávido nessa sociedade transfóbica, mas é um sonho que não quero abrir mão por conta de como a sociedade vai enxergar. – Câe Vasconcelos

Riscos do uso indiscriminado de hormônios

Também sobre o uso indiscriminado de hormônios sintéticos, Aline Calixto alertou para o risco de efeitos colaterais como dor de cabeça e retenção de líquidos, até problemas mais graves como o risco de eventos vasculares neurológicos e de trombose. “Se a pessoa é tabagista e tem mais de 35 anos o uso de estrógeno é contraindicado porque aumenta muito o risco de trombose. Pacientes em processo de neoplasia, de câncer, também há um risco de trombose. Se associar qualquer fator de risco com o uso de estrógeno a chance de ter trombose é enorme”.

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Por fim, Chantal destacou a importância do chamado planejamento cíclico, fazendo uma conexão entre a agenda menstrual e a agenda pessoal. “Não faço nada sem antes olhar em que fase do meu ciclo menstrual estarei e também olhar a lua. É uma sabedoria ancestral que facilita nossos caminhos para aproveitar a energia das fases do ciclo para programar atividades da vida pessoal que exijam mais ou menos energia. É importante aplicar esses ensinamentos e conhecimentos dentro da própria realidade”.

O episódio também abordou questões como o uso de anticoncepcionais, discurso tranfóbico de J.K. Rowling, violência médica na questão de menstruação e gravidez com homens trans e casais transcentrados, tratamentos para doenças relacionadas a menstruação, medicina humanizada, relação do ciclo menstrual com as fases lunares e questões da reposição hormonal.

Ficou curioso para saber o que mais rolou nessa prosa? Então aperta o play, sinta-se em casa e vem com a gente! Ah, também guardamos dicas culturais incríveis para você nesse episódio enquanto aprecia um café com um pão quentinho!

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Fotos: foto 1: Getty Images/foto 2: Getty Images


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