Ciência

Mudanças climáticas estão apagando a arte mais antiga da humanidade

25 • 05 • 2021 às 19:55
Atualizada em 28 • 05 • 2021 às 10:11
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Na ilha de Sulawesi, na Indonésia, se encontram as mais antigas obras de arte produzidas pela humanidade que se tem notícia – e as mudanças climáticas ameaçam atualmente desaparecer com tais joias arqueológicas. Nas cavernas de calcário e nos depósitos rochosos de Maros-Pangkep, na ilha, pinturas rupestres datam de mais de 40 mil anos atrás, incluindo uma incrível pintura de uma mão e a mais antiga cena de caça pintada já descoberta, em cálculo realizado por radiocarbono – mas tais pinturas estão desaparecendo por conta da fragmentação de rochas e minerais, acelerada pelas mudanças climáticas.

A pintura das mãos em Sulawesi

A pintura das mãos em Sulawesi é uma das mais icônicas e importantes de toda arqueologia

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O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, e liderado pela especialista em conservação de arte rupestre Jilian Huntley, da Universidade Griffith, na Austrália, e concluiu que o fenômeno da fragmentação, intitulado haloclastia, vem degradando obras rupestres em 11 cavernas em Maros-Pangkep, na parte sul da ilha. O fenômeno se dá por conta da presença de cristais salinos, que surgem quando as rochas absorvem sais das águas em contato com a caverna e, a partir da evaporação, formam-se os cristais: as mudanças de temperatura dentro das cavernas fazem com que tais cristais inchem e encolhem, causando assim as fissuras nas rochas – e nas pinturas.

Pintura rupestre em Sulawesi

O desgaste nas pinturas já se tornou visível e mensurável

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A haloclastia faz com que a superfície das rochas se transforme em pó, ou se separe das paredes, colocando assim as pinturas rupestres mais antigas do mundo e um dos mais importantes sítios arqueológicos do planeta sob ameaça de extinção. O aumento das temperaturas por conta das mudanças climáticas faz com que os sais que provocam a degradação das pinturas de Sulawesi inchem em até três vezes mais do que o tamanho original. Segundo consta, em apenas cinco meses um dos painéis das cavernas perdeu espaços visíveis, em dimensões de centímetros, por conta do processo.

Pintura rupestre em Sulawesi

Essas fotos de 2011 mostram as pinturas de mais de 40 mil anos nas cavernas da Indonésia

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“Análises mostram que a haloclastia não está apenas fragilizando quimicamente as superfícies das cavernas”, afirma Huntley em comunicado. “O crescimento dos cristais salinos atrás das rochas está fazendo com que haja uma descamação. A degradação da arte rupestre deve piorar com o aumento da temperatura global”. As pinturas estão sendo registradas em digitalização 3D, mas a manutenção das obras de arte mais antigas já descobertas feitas pela humanidade está diretamente ligada à redução do impacto ambiental – e, portanto, das mudanças climáticas – provocado pela ação humana: não só o nosso futuro está ameaçado, mas também o nosso passado.

Pintura rupestre em Sulawesi

As cavernas em Sulawesi são um dos mais importantes sítios arqueológicos do planeta

 

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