Inspiração

Carpideira: a profissão ancestral que consiste em chorar em enterros – e que ainda existe

25 • 06 • 2021 às 10:22 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Existem muitas profissões exóticos e serviços inesperados espalhados pelas épocas e pelo mundo – poucos, porém, são tão estranhos, até mesmo mórbidos, e ao mesmo tempo tão ancestrais quanto o trabalho das carpideiras. Ofício exercido há mais de 4 mil anos em diversas culturas do mundo, trata-se de uma carreira majoritariamente feminina, cuja prática consiste em ser contratada para chorar em velórios e enterros alheios – sem qualquer ligação afetiva com a pessoa morta em questão, a carpideira vai às cerimônias para verter suas lágrimas em tributo.

Uma carpideira do início do século passado

Uma carpideira do início do século passado © Biblioteca do Congresso dos EUA

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A profissão de carpideira é tão antiga que é mencionada em mais de uma passagem da Bíblia – o propósito do serviço é, claro, amplificar a emoção dos velórios e também oferecer mais popularidade ao defunto. Apesar de se tratar de serviço ameaçado de extinção, curiosamente tal trabalho ainda existe em diversas partes do planeta hoje. Na China, por exemplo, a prática não só prossegue como em muitos casos é tornada em verdadeira performance catártica: Hu Xinglian, profissionalmente conhecida como “Líbelula”, tornou-se uma espécie de estrela no país, e costuma cantar, urrar e se jogar ao chão durante os cerimoniais.

Hu Xinglian em performance na China

Hu Xinglian em performance durante enterro na China © Getty Images

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Em pequenos vilarejos italianos ou gregos as mulheres mais velhas também são contratadas para chorar e cantar em velórios – e muitas vezes os cantos são improvisados na hora, relatando aspectos da vida do falecido ou falecida. Na Inglaterra do passado o serviço dos “mudos” era popular entre as classes mais abastadas – e consistia não em mulheres para chorar, mas homens que acompanhavam as famílias das casas aos cemitérios, em evidente silêncio. Hoje, no país, ainda há uma empresa que oferece a presença de atores para ampliar o “público” de um enterro.

Dois "mudos" ingleses à espera de um velório

Dois “mudos” ingleses à espera de um velório © Wikimedia Commons

Carpideiras em registro do antigo Egito

Carpideiras em registro do antigo Egito © Wikimedia Commons

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O trabalho das carpideiras ainda existe também no Brasil, em especial no interior e nas zonas rurais do país. A mais famosa carpideira brasileira é provavelmente Itha Rocha, que chorou no funeral de personalidades como Ayrton Senna, Tancredo Neves, Mário Covas e Clodovil, entre muitas outras – além de carpideira, Rocha é também conhecida como “Madrinha dos Garis” no carnaval, e costuma desfilar em diversas escolas de samba – quando também costuma chorar, mas nesse caso por emoções diferentes.

Grupo de mulheres carpideiras na Inglaterra vitoriana

Grupo de mulheres carpideiras na Inglaterra vitoriana © Pinterest

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Abaixo, mulheres carpideiras trabalhando na região da Sardenha, na Itália:

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